Eficiência, chifres e dólares...

David Nogueira

Publicada em 20 de October de 2014 às 15:59:00

1. Eficiência, chifres e dólares...

Se há uma coisa que causa desconforto é vermos o óbvio e não acharmos quem aponte com propriedade o caminho correto a ser seguido pelos Caras-pálidas locais. O fato de minha inteligência ser limitada talvez dificulte a compreensão de algumas coisas, no entanto, vou animar-me em pitacar sobre um assunto atraente e despertador do interesse de todos aqueles que ousam visitar as terras abrasivas e distantes de Rondônia. Afinal, se existe a compreensão da necessidade de melhoria de tudo aquilo que produzimos ou podemos produzir por cá, por qual razão isso não é feito?

2. Churrasco para o mundo

Estava pensando na pecuária de nosso Estado. É muito chifre ao nosso redor! Em levantamento divulgado pelo Idaron no ano de 2013, nosso rebanho de Bovinos e de Bubalinos (para quem não sabe, trata-se de búfalos) já ultrapassou a casa de 12 milhões. Segundo os dados da Secretaria de Agricultura do Estado de Rondônia (SEAGRI), o número de abates em 2013 ultrapassou a marca impressionante de 2 milhões. Frigoríficos de ponta exportam para China, Egito, Venezuela, Rússia, Arábia Saudita, Israel, entre outros. Tudo aponta para a conquista de mais mercados, particularmente o forte mercado americano e o da Malásia, cujo abate do boi (mesmo sendo pagão) deve seguir alguns rituais islâmicos, sob pena de veto.

3. O IDARON fez o dever de casa

O mercado da carne de nossas calientes terras tornou-se responsável (conforme dados oficiais de 2012) por 20% do total das exportações do Brasil nesse setor. Não é nada modesto o fato, considerando o tamanho de nossa minguada economia no cenário nacional. Esse resultado é fruto de um trabalho muito importante e eficiente da Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril do Estado de Rondônia (Idaron), cuja erradicação da aftosa transformou nosso estado em área livre dessa doença por vacinação. Méritos para os funcionários e para a direção, cujos problemas a rodear aquele setor sempre foram “misteriosos, corporativos, classistas e obscuros”.

4. Constatando o óbvio

Como compreender que um Estado capaz de fortalecer, de forma crescente, um rebanho de “boi verde” superior a 12 milhões de cabeças não consiga desenvolver na região uma indústria de couro significativa? Na verdade, existem experiências nessa área e alguns de nossos produtos já chegaram às pistas de Fórmula Um; porém, nada justificável à inexistência de uma verticalização da produção pecuária. E o leite?!! Ainda não conseguimos produzir queijos e derivados do leite de qualidade superior, por quê? Do boi, todos sabem, pode-se aproveitar da pata ao chifre... absolutamente tudo. No entanto, deixamos de agregar valor aos produtos dessa cadeia por inércia de nosso setor produtivo e lerdeza de setores do Governo. A indústria do couro, por exemplo, é muito importante para a nossa realidade. Ela adita valor, gera empregos de qualidade e recolhe impostos importantes para o Estado. Por que não avança?

5. Calhaus e dólares

Não é só no universo dos quadrúpedes, todavia, que a nossa verticalização produtiva é coxa... Existem mais dois setores, cuja histórica ausência de visão estratégica causa arrepios e calafrios econômicos. Como explicar não termos, até hoje, verticalizado, com qualidade, a cadeia produtiva da madeira e dos granitos em nossa região? Possuímos floresta com espécimes belíssimas, prontas a serem exploradas de forma sustentável. Não investir nisso é insano. O objetivo final é derrubar menos árvores, agregar valor com design e arte às madeiras, a fim de gerar mais renda, mais qualificação, mais trabalho e mais impostos. Idem em relação ao setor de granito, pois nossas pedras costumam sair de Rondônia em estado quase bruto, sem lhes ser agregado um maior valor. Não dá para continuar assim. O próximo Chefe do Executivo Estadual, seja lá quem for, precisará pensar nisso com carinho.