A homenagem de Amadeu Machado ao amigo e irmão Ney Leal

Hoje, dia 28 de setembro, o meu amigo, irmão, camarada, companheiro na longa jornada, Ney Luiz de Freitas Leal, completaria 65 anos. 

Publicada em 28 de September de 2016 às 09:57:00

Hoje, dia 28 de setembro, o meu amigo, irmão, camarada, companheiro na longa jornada, Ney Luiz de Freitas Leal, (Ney Gandaia, Ney Macaco) completaria 65 anos. Não deu tempo. Deviam estar com carência de alegria, de inteligência, de uma viola bem tocada, de lealdade, de irreverência e ele foi requisitado pelo outro plano.
Todos perdemos. E como perdemos! Avalio a falta que ele faz para a família. Agora estou aqui e lembrar da nossa infância. Ele era meio vesguinho e muito ruim na bolinha de gude. Perdia sempre e quando o prejuízo já era grande, (nós jogávamos na calçada em frente à casa dele) a Maria (mãe dele), que espiava por trás de uma veneziana  o chamava: "Ney Luiz, está na hora de entrar".  

Fizemos ginásio no Colégio Champagnat. Curso clássico no Júlio de Castilhos, que era a melhor escola do Estado, e era pública. Uma vaga lá era muito disputada, pois a qualidade daquele curso era a chave para abrir a porta de entrada na faculdade. Passamos no vestibular, que nos cobrava provas de linguas estrangeiras, inglês e francês; prova esrita de português, gramática, análise, e redação, prova de latim, filosofia e uma terrível prova oral de literatura, portuguesa ou brasileira. Os dois guris lá da Vila Santa Catarina, nos confins do bairro Partenon, tinham chegado à Universidade. Ao mesmo tempo tivemos que encarar o serviço militar. 

No ano de 1967 nós ralamos muito. Acordávamos 05:00 da manhã, andávamos um bocado, pegávamos ônibus e descíamos em frente ao CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva).  Encarávamos o curso  com aulas teóricas e práticas entre 07:00 hs e 12:00hs. Eu fiz o curso de cavalaria e o Ney fez infantaria, de onde, após estágio e unidades militares, na condição de aspirantes a oficial, saímos 2o. Tenentes da Reserva não remunerada do Exército (R2).

Meio-dia saíamos do curso e íamos trabalhar. Trabalhávamos no GBOEx. (Grêmio Beneficente dos Oficiais do Exército), no setor de pessoal. Do trabalho rumávamos para a faculdade. Aula das 19:00 hs. até 23:00 hs.
Dormíamos depois da meia-noite e pela manhã, para nosso desespero, lá vinha a nossa mãe chamar às 05:00 hs, para a repetição do roteiro. Pois com toda essa intensidade, ainda sobrava tempo para fazermos política estudantil contra a ditadura militar (na faculdade), namorar, jogar bola, tocar violão, cantar e tomar umas pingas.
Nos formamos em 1971 e viemos bater em Rondônia no dia 11 de novembro de 1973.

Quem nos trouxe foi o INCRA, através de uma das criaturas mais bonitas que nós conhecemos, o Dr. Altir de Souza Maia, de quem permanecemos amigos para sempre. Antes disso nós, ainda em Porto Alegre, nos casamos. O Ney foi meu padrinho no casamento com a  Amarillys e eu fui padrinho no casamento dele com a Neuza. Quando chegamos no Território de Rondônia nos sentimos imensamente felizes;  fomos cativados instantaneamente por essa terra e pela gente boa daqui. 

Eu trouxe na mudança a esposa, a Gabriela e o Gumeg. Ela com dois anos e ele com alguns poucos meses. 
O Ney veio com a Neuza e a Daniela, que tinha a mesma idade do Gumeg. Pois então o Ney partiu e não comemora entre nós o seu aniversário; me deixou na mão, porque nós planejamos uma baita festa para comemorarmos 40 anos de Rondônia, no próximo dia 11 de novembro. Uma pena não podermos fazer comemorar, da forma como ele gostava. 

O que eu estou querendo, depois de rodear tanto, é homenagear um cara especial. Honesto e ético; amigo, generoso, desprendido e solidário; marido e pai primoroso; advogado completo e íntegro. Ele foi muito especial e marcou de forma indelével a passagem dele nessa transição de vida terrena. Tipo do cara que sempre vai fazer falta. Para ajudar numa petição, para sacanear um amigo e morrer de rir depois; a paixão por uma pescaria; pela exuberância de vida que ele manifestava; esse era o Ney. Um amigo/irmão que eu tive nos últimos 58 anos e que se foi. Para melhor, com certeza, porque aqui ele já crescera o suficiente. Problema para nós que ficamos.

Quando ainda morávamos na Vila Santa Catarina, na Rua Irmão Weibert, em Porto Alegre, o Ney começou a fazer aulas de violão.  Aprendeu logo e bem. Nós nos reuníamos na casa do vizinho dele, o Affonso Rivera, onde o Ney tocava e todos nós cantávamos. Foi criado o 'Trio Delos". Este nome foi o Ney que indicou.

Segundo ele Delos era uma ilha grega, onde tudo tinha a ver com Apolo, sinônimo de beleza. Nós éramos belos, cantávamos e tocávamos belamente e por isso éramos Delos. Fazia sentido. Na verdade quem cantava muito era o Affonso. Uma voz potente, afinada e com enorme capacidade de vocalização.


Na foto que estou postando estamos, da esquerda para a direita, eu, Ney, Wilney (nesse dia ele pegou uma carona no trio) e o Affonso. O local era um programa na televisão Gaúcha, canal 12, que se chamava Bardoze. Acontecia aos sábados, aomeio-dia e era um dos programas de maior audiência na televisão em Porto Alegre. 
Era tudo ao vivo e nós demos nosso recado. Cantávamos em festas e nosso cachê eram cervejas e beijos.
Quando viemos para Rondônia nosso querido amigo Affonso, um excelente arquiteto, ficou para trás. Assim como ficaram tantos outros amigos.  O mais intenso deles é o Lauro Rosa, que muitos em Porto Velho conhecem, porque ele esteve muitas e muitas vezes conosco.

Enfim, estou tentando ser um mero registrador de fatos, mas a emoção acaba me tomando por completo e eu termino manifestando minha tristeza intensa, pela prematura partida do Ney, meu irmão, meu amigo, meu companheiro.  Uma pena tchê, que tu não estás mais conosco.  Porém a Maria e o Pitaluga estão tri-felizes com a tua chegada. Ney, meu querido amigo, dizer o que? Saudades....