Adeus ao Miranda

...um dia, e lá vão 17 anos, passando na Carlos Gomes, me deparo justamente com o que tanto ansiava: um sebo, que tantos anos depois se transformaria em Livraria Central, sempre sob o comando do austero e ao mesmo tempo brincalhão Walter Miranda, daí o título deste texto.

Humberto Oliveira
Publicada em 23 de março de 2017 às 11:17
Adeus ao Miranda

Quando cheguei a Porto Velho, há 20 anos, passei a frequentar a banca do Antônio, atualmente rebatizada como banca do barão. Peguei muitas revistas de cinema e fitas VHS de coleções de filmes e coleções de CDs, entre tantas outras coisas. Mas, eu precisava mesmo era encontrar um sebo para uma caça aos tesouros perdidos. Um dia, e lá vão 17 anos, passando na Carlos Gomes, me deparo justamente com o que tanto ansiava: um sebo, que tantos anos depois se transformaria em Livraria Central, sempre sob o comando do austero e ao mesmo tempo brincalhão Walter Miranda, daí o título deste texto.

Pois ontem, à tarde, recebi de uma amiga, a Diva, que trabalhou muito tempo no sebo e na banca, a triste notícia. O Walter havia falecido, noite passada, vítima de um enfarte fulminante. Pouco depois de fechar a livraria, ele se sentiu mal e antes de ser socorrido, morreu. Imagino o desespero da Magda, sobrinha e braço direito do Walter, na gestão da afamada e bem movimentada livraria, onde muitos vão para saber as novidades do mundo dos livros, dos quadrinhos, as aquisições em dvds, CDs e livros usados que ele vendia aos montes.

Quarta-feira mesmo telefonei para saber se uma revista de cinema que coleciono havia chegado. Quem atendeu foi a Magda - a quem sempre chamei de Magdinha, que disse - O Walter acabou de sair para buscar revistas na distribuidora. Liga daqui a duas horas. Não liguei. Deixei para telefonar hoje, mas todas às vezes em que tentei, ninguém atendeu. De repente a bomba. O Walter morrera. Todos de luto. Pena não poder ir dizer adeus. O enterro aconteceu às 15 horas. Eu saio do trabalho um pouco mais tarde.

Frequentei muito a banca e pretendo continuar. Ali encontrei livros que eu procurava há algum tempo. Completei minha coleção da série Literatura Comentada, encontrei muitos títulos, como Lamarca, o capitão da guerrilha, o livro sobre Anayde Beiriz, inspirou o filme Parayba mulher macho. Perdi a conta de quantos livros de cinema comprei lá. Foi na banca que fiz amizades duradouras, como a própria Magda, a filha dela, a Indianara, a Diva, o Walter. Vai fazer falta.

Às vezes conversávamos sobre filmes antigos. A preferência dele, os filmes em preto e branco. E também curtia antigos faroestes. Ele dizia não ter paciência para assistir novas produções. Muito barulho e pouca história. Pois é, caro Walter, nunca imaginei que escreveria sobre você e de sua morte prematura. Morte que pegou a todos seus clientes, digamos, de surpresa. A banca não será mais a mesma. Quantas vezes negociei uma compra ou venda de livros ou dvds?

Quantas vezes, o vi com sua característica blusa branca, a barba, seu jeito, sua ironia, seu bate papo, seu jeito de chamar a Magda, sempre solícita e pronta para atender ao tio. Certamente, ela é a que mais sentiu o baque da perda. Ela que vai carregar esta dor e tristeza pelo resto da vida. Cada vez que olhar às horas e for fechar a livraria, há de se perguntar, cadê o Walter? Mas ele continuará lá e em cada revista, livro, parteira, cada cd ou dvd.

Walter, você se foi fora do combinado. A vida é assim mesmo. Não direi a clássica frase - Deus sabe o que faz ou aquela outra - Ele foi para um lugar melhor. Uso aqui a resposta do genial diretor de cinema, Woody Allen, quando perguntado sobre o que achava da morte, ele foi taxativo - Não concordo. E nem eu. Descanse em paz Walter Miranda. 

Comentários

  • 1
    image
    luiz brito 23/03/2017

    A ULTIMA VEZ QUE VI E FALEI COM O WALTER FOI ALGUMAS HORAS ANTES DE SEU FALECIMENTO, MAIS OU MENOS UMAS 48 HORAS, ESTAVA DE PASSAGEM PELA LIVRARIA E DA CALÇADA VI WALTER EM PÉ PROXIMO A PORTA AO MEIO DE LIVROS REVISTAS E OUTROS PRODUTOS CULTURAIS, E COMO SOU FÃ DE VENIL PERGUNTEI A ELE SE LÁ TAMBÉM TINHA SEBO DE VENIL, SIM VC PODE SUBIR ME RESPONDEU, NÃO SUBI POIS ESTAVA INDO PRO TRABALHO PASSAREI UM OUTRO DIA DISSE A ELE, ME RESPONDEU DANDO CONTINUIDADE AO NOSSO DIALOGO VENHA QUANDO VC PODER. FOI ASSIM MEU ULTIMO CONTATO COM AQUELE AMIGO. BY BY WALTER

  • 2
    image
    Rubemar Mendes 23/03/2017

    Belo texto, parabéns !!!!! Esse era de fato era um cidadão de bem, dentre tantos outros adjetivos, excelente profissional.

Envie seu Comentário

 
Winz

Envie Comentários utilizando sua conta do Facebook