Aos 33 anos de instalação, Hospital de Base aguarda habilitação para transplantes de coração

Nos corredores, centro cirúrgico, maternidade, enfermarias e demais dependências do hospital circulam diariamente 2 mil pessoas – pouco menos do que a população do município de Pimenteiras do Oeste, que tem 2,4 mil habitantes, por exemplo.

Publicada em 19 de janeiro de 2016 às 03:22:00

Hospital de Base - foto Admilson Knightz(SECOM) (1)

Pelo menos 2 mil pessoas passam diariamente pelo hospital

O movimento diuturno nos 570 leitos consolida a primeira grande obra pública inaugurada há 33 anos, em Porto Velho, durante a instalação do Estado de Rondônia. Trata-se do Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro, que fez aniversário no último dia 12.

“O HB fez aniversário, e a melhor comemoração são as conquistas em diferentes áreas”, comentou a diretora-adjunta, psicóloga Joelma Sampaio do Nascimento.

Segundo ela, desde o ano passado, o Núcleo de Segurança do Paciente funciona em sala própria, o que melhorou a infraestrutura de trabalho. Diversos protocolos vêm sendo adotados, destacando-se os de queda, transfusional, farmacovigilância e hemovigilância.

Nos corredores, centro cirúrgico, maternidade, enfermarias e demais dependências do hospital circulam diariamente 2 mil pessoas – pouco menos do que a população do município de Pimenteiras do Oeste, que tem 2,4 mil habitantes, por exemplo.

Desse contingente, mil são internadas e mil são acompanhantes. A clientela não se limita a Rondônia. Ali desembarcam pacientes do Acre, Mato Grosso, Sul e Sudoeste do Estado do Amazonas, da fronteira com a Bolívia e até do país vizinho.

Referência no estado para a gestação de alto risco, neonatologia e internação psiquiátrica, o HB habilita-se atualmente para transplantes de coração. Já ganhou outras habilitações de alta complexidade do Ministério da Saúde para serviços de traumato-ortopedia, cirurgias cardíacas em adultos; cardiologia intervencionista, cirurgia vascular, procedimentos endovasculares extracardíacos, oncologia, transplante de córnea, retirada de órgãos e tecidos, cuidados prolongados [enfermidades cardiovasculares, pneumológicas, neurológicas, osteomoleculares e do tecido conjuntivo], vasectomia e cuidados intermediários.

“Os desafios seguem. Primeiramente, o cumprimento das metas da Organização Mundial da Saúde, traduzidas em seis protocolos do paciente; a gestão de riscos identificados e classificados no processo do cuidado, identificação correta dos pacientes e melhoria da comunicação entre profissionais de saúde, pacientes e familiares”, disse o diretor-geral, médico pediatra Nilson Cardoso Paniágua.

Equipes do HB lutam permanentemente para promover a segurança do paciente no que diz respeito à hemotransfusão, medicamentos, redução de riscos de úlcera por pressão, cirurgias seguras e diminuição de infecções associadas aos cuidados de saúde por meio da higienização das mãos, em parceria com a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar.

Parcerias são prioritárias com o Corpo de Bombeiros Militar para o uso de um carro exclusivo; com a Polícia Comunitária e Centro de Comunicação Social da Polícia Militar para divulgar o Banco de Leite; e com a Rede Cegonha para aquisição de novos equipamentos.

Para o diretor geral, o mérito de se tornar hospital-escola honra a memória do patrono da casa, o médico e antropólogo paraense, Ary Tupinambá Penna Pinheiro.

PATRONO DOOU-SE A RONDÔNIA

“Durante algumas décadas do século passado, o doutor Ary doou-se ao socorro a milhares de trabalhadores que construíram a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, no tempo do ex-Território Federal do Guaporé”, lembrou Paniágua.

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O médico da ferrovia que ligava Porto Velho a Guajará-Mirim, na fronteira brasileira com a Bolívia, a 362 quilômetros da Capital rondoniense, Ary Pinheiro é também considerado o “Pai da Socioantropologia” no estado.

“Ary Pinheiro também foi ambientalista”, lembrou sua filha, a escritora e acadêmica de letras, Yêdda Pinheiro Borzacov.

“Lembro-me com nostalgia do seu quintal de mágicas belezas [na rua D. Pedro II] que ele tanto amava e onde cresciam uma majestosa mangueira, belíssimos abacateiros, cacaueiros, figueira, pupunheira, cajazeiro e uma infinidade de papoula, folhagens diversas, tajás, trepadeiras e palmeiras, que faziam o paraíso dos pássaros e o deleite dos visitantes”, citou Yêdda, completando que “ali dentro, como um oásis limitado, vivia um homem simples e puro, amigo dos animais, dos livros, das plantas. Um homem que vivia em paz consigo próprio e que tinha naquele pedação de chão batido o seu mundo”.

Corredores largos davam a impressão de um “hospital de guerra”. Esse comentário circulava entre os críticos da obra entregue pelo ex-governador Jorge Teixeira de Oliveira. E ele não se cansava de repetir que “entregava a Rondônia um hospital para o futuro”.

Hoje, aquele gigante de 16 mil m² de área construída e 34 mil m² de área urbanizada já não é tão gigante para a população da Capital, que já é superior a meio milhão de habitantes; e à estadual, calculada pelo IBGE em 1,7 milhão de pessoas.

“Apenas no primeiro quadrimestre do ano passado, contabilizávamos mais de 1,1 mil pedidos e ordens de serviço em instalações elétricas, prediais, pintura, hidráulica, lavanderia, manutenção de condicionadores de ar e entrega de gases medicinais”, comentou o diretor-geral.

CENTRO OBSTÉTRICO, PRIMEIRO A FUNCIONAR

Segundo a Gerência de Recursos Humanos, atualmente trabalham no HB 1.973 pessoas, do vigilante ao pessoal técnico, terapeutas, psicólogos, enfermeiros, médicos, biomédicos, farmacêuticos, bioquímicos, engenheiros, agentes de saúde, assistentes e administradores.

Meses antes da inauguração pelo ex-presidente da República, João Baptista de Oliveira Figueiredo; e pelo ex-governador Jorge Teixeira, o hospital começava a funcionar com uma equipe de médicos e paramédicos.

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O primeiro setor a funcionar foi o centro obstétrico. Ginecologia, Obstetrícia e Sala de Internação absorveram inicialmente o trabalho de 15 médicos, cinco enfermeiras, 11 auxiliares e 22 atendentes.

A equipe de plantão permanente era formada por dois obstetras, um anestesista, duas enfermeiras, dois auxiliares e três atendentes. Paralelamente, funcionaram os serviços de berçário, radiologia, laboratório e banco de sangue.

“Desativaram a Maternidade Darcy Vargas e três ambulâncias começaram a transferir as pacientes para cá; e as equipes já estavam a postos para o atendimento, que começou às 9h do dia 12 [a inauguração ocorrera às 15h], com parturientes recebidas por enfermeiras e pelo pessoal do Serviço de Arquivo Médico (Same), que ficava na entrada do pronto-socorro”, lembrou o radialista e jornalista, Chico Lins, que até hoje trabalha no hospital.

Ainda segundo Chico Lins, às 10h45 do dia da inauguração nascia o primeiro bebê pesando 3,550 quilos, com 45 centímetros, em parto normal assistido pelo médico Hiran Gallo.

Em 2016, o Centro Obstétrico tem 20 a 30 médicos permanentemente, dos quais três plantonistas, dois residentes e dois anestesistas; e a equipe de enfermeiros e técnicos de enfermagem. No alojamento conjunto ficam dois a três médicos visitadores obstetras e dois pediatras, com a equipe de residentes e da enfermagem, técnicos, psicólogos, assistentes sociais e nutricionistas.

Como pode ser definido o HB hoje? Conforme relatório de gestão da unidade, trara-se de um hospital geral de grande porte, de assistência terciária, que faz atendimento em regime de internação hospitalar, por demanda espontânea e referenciada.

As especialidades oferecidas são: Clínica Médica, Cardiologia, Nefrologia, Hematologia, Pneumologia, Urologia, Dermatologia, Endocrinologia, Reumatologia, Gastroenterologia, Neurologia, Oftalmologia, Otorrinolaringologia, Pediatria, Proctologia, Psiquiatria, Neonatologia, Genecologia e obstetrícia, Radiologia, Cirurgia Geral, Cirurgia oncológica, Buco-maxilo, Cirurgia Vascular, Cirurgia Cardíaca, Neurocirurgia, Cirurgias ortopédicas, Cirurgia Plástica, Cirurgia Bariátrica, Cirurgia pediátrica e Cuidados Intensivos (adulto, pediátrico e neonatal).


Fonte
Texto: Montezuma Cruz
Fotos: Admilson Knigthz e Daiane Mendonça