Atentemos para a análise do discurso

Edilson Lôbo

Publicada em 04 de October de 2016 às 13:25:00

por Edilson Lôbo

Neste primeiro turno, dentre muitas coisas que me chamaram a atenção, uma que certamente passou  despercebida pela imensa maioria do espectador, do eleitor, foram ditas por dois candidatos à prefeituras de capitais.

Jorge Dória eleito já no primeiro turno em São Paulo, e Dr. Hildon, candidato a disputar o segundo turno Em Porto Velho, repetiram pelo menos em algumas ocasiões de suas falas, dirigidas aos seus eleitores, ou aos eleitores de um modo geral, que não são políticos, mas empresários bem sucedidos. E fizeram questão de enfatizar isto, como a minimizar ou até subestimar, a condição do político.

Pequeno detalhe, os dois são candidatos do PSDB. Coincidência? pode ser. Ou será que o partido, pretende criar uma nova narrativa de substituir o político stritu sensu, pelo empresário, pelo menos nas disputas a cargos executivos?

Divagações à parte, o que importa mesmo, é tentar entender o significado dessas colocações, no contexto de cada fala.

O que é ser político? Aristóteles já percebeu lá na antiga Grécia, que o ser humano ao relacionar-se, necessitar de coisas, do outro,  ao buscar na comunidade, um aporte seguro para a sua completude, ele se torna naturalmente um ser político.

Claudia Korol, em seu texto, O ser humano como ser político, afirma que: “Nascer é um ato político. É o primeiro gesto de curiosidade e de autonomia frente ao mundo pré-estabelecido em que chegamos.” E noutro momento nos diz: (Cada identidade assumida no processo de nascer como pessoa é um ato político, sejamos ou não conscientes dessa dimensão fundante de nossa subjetividade. Estejamos ou não claros do momento que Bertold Brecht chamou de “alfabetização política”).

Qual a intencionalidade, mesmo num ambiente claramente, especificamente, determinantemente político, se dizer que não é político? Ou como um cidadão, filiado num partido político há anos, participando ativamente das suas decisões, ocupando inclusive cargos de confiança em sua trajetória de homem público, no caso específico de Jorge Dória, ainda assim, não se assumir como político?

A antiga tensão existente entre texto e contexto. É nessa perspectiva, que a análise contextual, se coloca como instrumento importante da linguagem comunicacional,  para dar conta de interpretar para além do texto, a estrutura discursiva que está em questão.

Penso que há nessa preocupação, um incômodo desses candidatos,  em assumirem as suas condições de políticos. Várias podem ser as determinantes para esta postura. Vai desde a compreensão do que venha a ser um ente político, ou o receio de o fazê-lo, face o nível de degradação que o ambiente político atingiu em nosso País. Ouso dizer, que a maior delas, seja a ausência de representatividade que os políticos de um modo  geral, foram perdendo nas últimas décadas perante a nossa sociedade. Os escândalos seguidos, a corrupção sistêmica, a falta de credibilidade que este segmento atingiu, chega a uma escalada tão deprimente, que as pessoas se envergonham da condição do ser político.

Qualquer que seja a justificativa, para alguém que postula o cargo de prefeito de uma capital, que deve estabelecer um diálogo verdadeiro com os seus munícipes  que se propõe a promover ações pautadas na honestidade, esse simples fato, pode ser denunciador de coisas maiores, que poderão se configurar numa trajetória da administração municipal ao longo dos seus mandatos.

Parafraseando um pensador que dizia acreditar nas pequenas coisas, pois as grades dependem delas, é a partir das coisas simples, das posições,  das ações simples, que atingiremo para o bem ou para o mal, as mais complexas.