“Brasileirice” na tragédia?

É inimaginável tentar medir ou mesmo compreender o que estão passando os familiares das 71 vítimas fatais daquele fatídico voo.

Publicada em 30 de November de 2016 às 11:12:00

Professor Nazareno*

            A tragédia que se abateu sobre o jovem time da Chapecoense e consternou o mundo do futebol teve dimensões épicas de dor e sofrimento inenarráveis para o Brasil e principalmente para aquela desenvolvida cidade no interior de Santa Catarina. É inimaginável tentar medir ou mesmo compreender o que estão passando os familiares das 71 vítimas fatais daquele fatídico voo. O Brasil que dá certo chora mais uma vez uma tragédia em pouco tempo. Outras catástrofes como o rompimento de uma barragem em Mariana, Mina Gerais, e o incêndio da boate Kiss em Santa Maria no Rio Grande do Sul deixarão marcas profundas nos corações e mentes de todos os envolvidos que chorarão amargamente sobre cinzas e lama. Mas uma pergunta que não quer calar ainda ecoa incômoda: havia meios de se evitar o caos ou tudo não passou de obra do acaso?

            Não há ainda explicações claras e precisas sobre as causas que levaram o “avião da Chapecoense” a se espatifar sobre os Andes em plena selva colombiana matando quase uma centena de pessoas e dizimando completamente a promissora equipe de futebol brasileira. Pode ter sido um temporal amazônico, muito comum em nossa região. Podem ter sido falhas mecânicas ou outras causas até então desconhecidas e que serão futuramente melhor explicadas pelas autoridades daquele país. Mas ao que tudo indica, o problema mais provável foi mesmo pane seca, ou seja, falta de combustível. A aeronave, um modelo AVRO/ RJ 85 de fabricação britânica, tem autonomia para três mil KM de voo. Exatamente a mesma distância entre as cidades de Santa Cruz de La Sierra na Bolívia e Medellín, destino final na Colômbia. Não houve escalas na viagem.

            Mas segundo autoridades aeronáuticas bolivianas, o plano de voo desta aeronave previa uma escala em Cobija ou mesmo em Bogotá para reabastecimento. Além dessas duas cidades havia possibilidades de paradas para esse fim em Porto Velho, Rondônia, Rio Branco e Cruzeiro do Sul no Acre, Iquitos no Peru ou até mesmo Manaus, Tefé ou Tabatinga no Amazonas. Será que o piloto pensou como um brasileiro e achou que o combustível seria suficiente para completar a fatídica viagem? Além do mais, quem em sã consciência gostaria de fazer um pouso em Porto Velho, Brasil, um fim de mundo atrasado e esquecido como esse? “Um voo sem escalas economizaria tempo e dinheiro”, podem ter pensado erradamente os responsáveis pela condução daquela aeronave. Se assim foi, o jeitinho brasileiro prevaleceu e levou a um desastre que comoveu o mundo.

            Chapecó não merecia isso. Nem ela nem nenhuma outra cidade do mundo, claro. Município progressista do desenvolvido Oeste de Santa Catarina com cerca de 210 mil habitantes tem na agricultura e na indústria agropecuária o carro-chefe de suas receitas. Com uma das melhores qualidades de vida do Brasil, a limpa, civilizada, florida e asseada “capital do Oeste catarinense” pode até ser comparada a algumas cidades da Europa e dos Estados Unidos. Bem diferente das cidades do Norte e do Nordeste do Brasil, onde pobreza, lixo, exploração humana, miséria e violência são cenas comuns. A Chape, seu apelido carinhoso, tinha uma folha enxuta, organização, um bom elenco e já despontava como uma das grandes equipes do fracassado futebol brasileiro. Por tudo que se faça para reparar a tragédia, nada apagará de nossas mentes a alegria daqueles meninos alviverdes do interior. A Chapecoense viverá para sempre em nossos corações.

 

*É Professor em Porto Velho.