...E eu fui à Banda...

Professor Nazareno*

Publicada em 10 de fevereiro de 2016 às 15:50:00

 

            Vai quem quer a esta Banda de carnaval de Porto Velho. Não queria ir, mas fui. E me encantei profundamente. Foi uma das melhores coisas que fiz em toda a minha vida. Lá, vi outro Brasil, outra Porto Velho, outra Rondônia. E outras pessoas também. Era um país muito diferente das manchetes diárias de violência, corrupção e de caos social que estamos acostumados a ver. A cidade e o Estado, como num passe de mágica, transformaram-se de uma hora para outra em verdadeiros paraísos com borboletas azuis e coelhinhos saltitantes. Alegria, descontração, felicidade, confraternização e pessoas felizes isso era o que mais se observava naquele mundo inexistente. Antes, fui a contragosto participar dos blocos carnavalescos Pirarucu do Madeira e do Galo da Meia Noite. Nem notei que nas águas do Madeira não há Pirarucus e o frango está caríssimo.

            Escamotear a realidade parece que tem sido a função maior do carnaval em nosso país. Depois do futebol, a folia tem sido a maior arma de alienação e amnésia usada pelas autoridades para entorpecer a massa ignara. Naquele ambiente irreal, não se falava em Eduardo Cunha, na cassação da Presidente Dilma e muito menos na Operação Lava-Jato. O PT ali era uma espécie de Partido Democrata dos Estados Unidos ou o Partido Trabalhista do Reino Unido. Os petistas, todos brincando alegremente no meio da multidão entorpecida, davam a impressão de serem grandes estadistas e sábios gurus da população sofrida. Vários ladrões do dinheiro público, sem nenhum acanhamento, brincavam com os roubados e lesados contribuintes. Tucanos bêbados nem falavam mal do governo naquelas horas. A mídia fascista e reacionária mentia endeusando a todos.  

            Durante o “Reinado de Momo”, a inflação desaparece, a Justiça entra em recesso, a violência diminui, as oportunidades de emprego se multiplicam, o trânsito fica mais civilizado, a corrupção deixa de existir e os governantes exortam todos àquela dança de pobres. Numa hora dessas, quem se lembra de viadutos inacabados e de ponte escura? Quem gostaria de saber quais foram os responsáveis pelo Espaço Alternativo inacabado e por que o preço da energia e da gasolina está nas nuvens? Se algum louco falasse mal de Mauro Nazif seria calado à força com mais um gole de cachaça ou uma cheirada de crack. Participar muitas vezes de ambientes regados a bebidas alcoólicas e drogas tem sido considerado cultura por muitos incautos e alienados foliões. Claude Lévi-Strauss deve se revirar no túmulo quando se fala dessa “Banda do fim do mundo”.

            Mas o carnaval tem o seu lado bom: sem ele não haveria os retiros bancados pelas religiões. E ninguém se aventuraria num “Carnagospel” onde só se bebe vinho e se cantam marchinhas exortando os foliões a irem para o céu. Além disso, os bancos passam cinco dias fechados e ficam sem arrecadar os suados centavos dos cidadãos que brincam aquilo. Como no Japão e nas cidades da Europa, após a festa alienante as ruas ficam limpas e sem nenhum lixo ou monturo. O pior da farra, no entanto, é depois do seu final: a ressaca e a volta à dura realidade. O temível Zika vírus também estava na folia só que brincando e não infectando ninguém. Dengue, chikungunya e AIDS se isolam em respeito à festa. A Samarco não matou nenhum rio. Os governantes não mais roubarão o Erário e o preço dos coletivos não será reajustado. Depois da Banda só me resta mesmo acreditar que o Pirarucu é um peixe típico das águas do Madeira. E não é?

*É Professor em Porto Velho.