EDUCAÇÃO: A CAMINHO DO CAOS...

O problema tem nome e sobrenome: “Ensino Médio Inovador”.

Publicada em 10/05/2012 às 08:34:00

O Estado de Rondônia, infelizmente, em pouco tempo, terá problemas muito graves no setor da educação, um setor, aliás, com inúmeras evidências de debilidade e falta de gestão, fato que agrava e muito a realidade, sugerindo que os números de nosso estado, nos diversos critérios de avaliação utilizados pelo Ministério da Educação, certamente serão movimentados para baixo, a partir das ações “inovadoras” propostas pelo governo rondoniense.

O problema tem nome e sobrenome: “Ensino Médio Inovador”. Segundo o que pregam os defensores do governo, a partir do início do próximo semestre, as escolas da rede estadual terão que funcionar em horário integral, ou seja, os alunos matriculados nos turnos da manhã e da tarde terão que ficar o dia inteiro na escola, onde participarão de diversas atividades científicas e de lazer e arte, objetivando melhorar os índices do nível de ensino.

Na verdade não é uma ideia ruim, se fossem considerados alguns pontos preponderantes que o governo insiste em atropelar. O tema não foi debatido com os pais dos alunos, nem com os professores e muito menos com os alunos, sendo uma medida imposta pelo governo, mesmo sem ter à frente da SEDUC uma pessoa que entenda de educação. Esses delírios causarão um grande transtorno na educação rondoniense, como veremos em argumentos posteriores.

Um dos maiores problemas do “Ensino Médio Inovador” é a falta de estrutura física das escolas e a falta de escolas em vários municípios do estado. Há muitos municípios onde o estado tem apenas uma escola, mas quer implantar o sistema integral. Qualquer pessoa com o mínimo de entendimento de educação não faria uma bobagem dessas, visto que isso provocará um grave problema social: muitos estudantes serão obrigados a deixar de trabalhar para atender aos delírios do “ensino inovador”, que pode se transformar numa das piores experiências feitas por Confúcio Moura e Júlio Olivar. Quando uma escola é perguntada como ficarão os empregos dos alunos que trabalham, e recebe como resposta que os alunos que trabalham terão que deixar o trabalho, isso revela total ausência de critérios para se fazer as coisas. Imaginem os leitores quantos alunos trabalham meio período para ajudar no sustento da família e não poderão mais fazê-lo por causa do “ensino inovador”.

Há municípios que possuem diversas escolas da rede estadual. Neste caso, se a SEDUC tivesse ouvido os professores e alunos certamente faria o tal “ensino inovador”, inicialmente como opção, deixando às famílias e ao aluno a faculdade de escolher o sistema onde ele quer estudar e, posteriormente, se acontecessem os resultados esperados, outras escolas seriam inclusas no programa. Interromper o ano letivo no meio para implantar um programa que nunca foi debatido com alunos, pais de alunos e professores é uma atitude que contraria todos os princípios pedagógicos. É incrível que entre as mentes iluminadas de asseclas da SEDUC não tenha surgido nenhuma pessoa para argumentar isso. O fato de fazer as coisas com pressa e sem debate (por imposição) não quer dizer que vai funcionar. Dizer que os alunos que trabalham devem pedir demissão para aderir ao sistema integral de ensino é uma grande covardia contra a condição social de milhares de família rondonienses... Os destinos de um setor que seria prioridade do governo não podem ser decididos sem um amplo debate.

Há vários municípios do estado onde as famílias negociam com os filhos o horário de estudar, a fim que tenham condições de tirar leite, plantar e colher café, cuidar de filhos menores, ajudar no aspecto financeiro da família... Uma família onde os filhos tiram leite é uma família que não possui condições de contratar vaqueiros, peões e outros trabalhadores... É contraditório que o governo de Rondônia esteja sempre contestando a evasão escolar e proponha uma medida desse tipo... Sugerir aos alunos que peçam demissão do trabalho é o cúmulo da falta de zelo com a situação social de nosso povo... Há escolas onde mais da metade dos alunos terão que fazer isso. Quem pagará as contas dessas famílias? Quem será responsabilizado pelo caos social? Quem irá auxiliar as famílias nos trabalhos domésticos? São algumas perguntas que certamente o governo não fez. Se fez, simplesmente ignorou as respostas.

Reunir os diretores de escolas na capital do estado, longe da realidade de muitos municípios, para dizer que isso “tem” que ser feito, “ainda este ano”, é uma medida ditatorial, antissocial, irresponsável e que contraria todos os princípios democráticos. Colocar na cabeça dos diretores de escola que isso é uma imposição do Governo Federal é brincar com a inteligência das pessoas. Obrigar as famílias a tirarem os filhos do emprego, sem nenhuma outra possibilidade de compensar os prejuízos, é uma medida que evidencia a falta de compromisso com as futuras gerações.

É importante esclarecer que essa ideia poderia ter bons frutos, caso a implementação tivesse critérios pedagógicos; e não militares. Que fossem escolhidas algumas escolas para iniciar o programa, mas nas cidades que deixam outras opções aos alunos e aos pais. Um governo sério tem a obrigação de pensar nisso, de ouvir os professores, os pedagogos, as famílias... Ninguém foi ouvido; as pessoas foram comunicadas... Isso é lamentável num governo onde a educação seria prioridade... Qual é o estado brasileiro em que todas as escolas públicas têm o ensino integral? Claro que NENHUM!! A cabeça de onde saiu essa ideia de chamar de “inovador” esse tipo de absurdo, com certeza, não vai doer depois, pois quem faz isso não tem nenhum escrúpulo. Mas, com certeza, muitas dores de cabeça incomodarão nosso estado após a falência desse delírio batizado pelo governo de “inovador”.

Caso o governo não faça um debate de verdade sobre que ações devem ser implementadas na educação, caso a educação seja tratada por meia dúzia de diretores que se calam diante das gratificações que recebem e caso as famílias dos alunos não tomem uma posição madura, serena e responsável sobre a educação em Rondônia, em pouco tempo assistiremos, de braços cruzados, ao caos que será instalado por pessoas que nem são professores, foram maus alunos e são gestores incompetentes... Tenho dito!

FRANCISCO XAVIER GOMES
Professor da Rede Estadual