Em debate quente na TV Rondônia, candidatos a prefeito insistiram em promessas manjadas em vez de propostas inovadoras

Troca de acusações elevou o tom de um debate onde se sobressaíram Mauro Nazif, Ildon Chaves e Roberto Sobrinho; Léo Moraes e Pimentel foram poupados. Ribamar Araújo não influiu nem contribuiu para a discussão.

Publicada em 30 de September de 2016 às 07:18:00

Rubens Coutinho, da editoria do Tudorondonia

Candidatos a prefeito de Porto Velho no debate da TV Rondônia desta quinta-feira: Ribamar Araújo (PR), Ildon Chaves (PSDB), Mauro Nazif (PSB), Roberto Sobrinho (PT), Léo Moraes (PTB) e Williames Pimentel (PMDB). Foto: Rondoniaovivo

A Rede Amazônica de Televisão (TV Rondônia/Globo) prejudicou seriamente o candidato do PSDB à Prefeitura de Porto Velho, Ildon  Chaves,  e acabou beneficiando, mesmo que involuntariamente, o adversários petista Roberto Sobrinho, no debate promovido pela emissora na noite desta quinta-feira.

Durante  troca de acusações entre o promotor aposentado e o ex-prefeito, houve um momento em que Roberto, usando a velha prática petista de se fazer de vítima e contra atacar o adversário de forma rasteira (acuse os adversários do que você faz, chame-os do que você é) , levantou sérias dúvidas sobre a origem patrimonial e os motivos que fizeram o adversário  se aposentar do Ministério Público Estadual.

Claramente ofendido pelo ex-prefeito, Ildon pediu  direito de resposta, previsto nas regras do debate, mas a emissora, após "consulta jurídica", negou tempo para que o ex-promotor fizesse os esclarecimentos, deixando no ar as suspeitas levantadas por Roberto.

O mais grave ainda  é que a decisão de não conceder o direito de resposta não levou em consideração aspectos jurídicos ( pois ficou caracterizada a ofensa) , mas  o horário engessado da emissora local, cuja grade de programação é fechada pela Rede Globo.

A emissora nacional  impõe um tempo tirânico à Rede Amazônica, o que equivale dizer: não há a menor flexibilização no horário da programação , por isso o debate de ontem pareceu corrido aos telespectadores, com o mediador, André Luiz Azevedo, visivelmente apressando os candidatos, de olho fixo no relógio, tudo  cronometrado na menor fração de segundos.

E tanto não levou em consideração o aspecto jurídico, mas sim a limitação do tempo, que a emissora demorou  menos de 3 segundos para negar o direito de resposta que poderia permitir a Ildon Chaves   se contrapor à rasteira do adversário.

O DEBATE

O debate da Rede Globo foi realizado entre os candidatos mais bem pontuados na segunda pesquisa Ibope contratada pela Rede Amazônica, por isso ficou de fora Pimenta de Rondônia, do PSOL. Estavam lá Ildon Chaves (PSDB), Roberto Sobrinho (PT), Mauro Nazif (PSB), Williames Pimentel (PMDB) e Ribamar Araújo (PR).

A impressão geral é que, excetuando na parte em que não obteve o direito de resposta, o candidato tucano foi muito bem no debate. Não apenas ele, mas também o prefeito Mauro Nazif, o alvo da noite. Roberto Sobrinho, por sua vez, mostrou o preparo de quem já foi prefeito da capital por oito anos e que poderia ser um forte concorrente a ir para o segundo turno - e até a ganhar a eleição - caso não tivesse com o registro de candidatura indeferido pela Justiça Eleitoral, condenado em duas ações de improbidade administrativa e terminado sua administração afastado pela Justiça, logo após ter sido preso numa operação de combate à corrupção na capital.

O debate começou com Ildon criticando a atual administração de Porto Velho, ao perguntar ao prefeito Mauro Nazif sobre geração de emprego. O tucano disse que a Prefeitura é hostil ao empreendedor externo, criando dificuldades burocráticas a instalação de novos negócios no município.

Ribamar Araújo, por sua vez, acusou o prefeito de deixar a cidade abandonada, "jogada às traças", e disse que as obras em andamento são eleitoreiras.

CORDA EM CASA DE ENFORCADO

Já o candidato Léo Moraes, que foi poupado durante todo o debate  , se atreveu a falar de corda em casa de enforcado e perguntou a Roberto Sobrinho qual era o projeto dele para o combate à corrupção na Prefeitura de Porto Velho. Usando a manjada técnica petista de procurar se safar acusando os adversários dos próprios maus feitos, Roberto saiu pela tangente e disse que a corrupção está disseminada na sociedade, e danou a falar de transparência.

Ribamar Araújo, todo atrapalhado, tentou encostar Mauro Nazif nas cordas, mas recebeu uma contraofensiva que o deixou zonzo. Ele procurou  menosprezar o que o prefeito considera um de seus maiores legados de  quando era deputado estadual: o fim das aposentadorias parlamentares na Assembleia Legislativa.

Ribamar disse que Mauro só acabou com os benefícios dos deputados porque já tem uma aposentadoria de médico e sugeriu superfaturamento de preços na aquisição de tubos para drenagem de águas pluviais na capital. "O senhor está há 12 anos na Assembleia, e porque, nesse período, não acabou com a aposentadoria dos governadores ?", questionou Mauro, após chamar Ribamar de mentiroso sobre a aposentadoria como médico.Depois da queda, o coice: Mauro disse que Ribamar estava com raiva porque não vai poder gozar o benefício

O tempo esquentou quando Roberto Sobrinho perguntou a Mauro Nazif porque este diz, em sua propaganda, que levou muito tempo para arrumar a casa e o que fez com os 250 milhões de reais para investimento que o petista teria deixado em caixa.

"Roberto, vou orar para que ninguém pegue a Prefeitura da forma como você deixou. Não foi você que deixou os 250 milhões, foi a Justiça , que o tirou do cargo", respondeu o prefeito, rememorando o final da administração Sobrinho, que foi preso e, posteriormente , afastado do cargo. Sua administração foi concluída pelo então vice-prefeito Emerson Castro (PMDB).

Diante de nova provocação de Roberto Sobrinho, Mauro respondeu: "Roberto, não adianta!. O povo sabe o que você fez!. Ninguém quer pegar uma prefeitura igual a que você deixou pra mim", e acusou a administração do ex-prefeito até de superfaturamento na comida servida no  restaurante popular da capital.

Ribamar Araújo voltou a se estranhar com Mauro ao afirmar que o ex-prefeito não tinha vergonha do fato de Porto Velho ter apenas 2 por cento de esgoto e um sistema de água precário. Mauro, mais uma vez, destroçou o adversário:  "O senhor está  na Assembleia há 12 anos e eu nunca vi um projeto seu tratar sobre esta questão. Faça a sua parte, deputado!. Faça alguma coisa!. Faça pelo menos o dever de casa!".

O único momento em que o candidato Léo Moraes sofreu um baque mais acentuado foi quando Mauro Nazif perguntou-lhe quanto, em emendas parlamentares, destinou ao município de Porto Velho.

Léo gaguejou, disse que o município tem perdido expressiva soma de dinheiro ("os recursos voltam por falta de projetos"), e acabou por revelar que, dos R$ 3 milhões em emendas a que tem direito, destinou cerca de R$ 120 mil para o município (se passar para o segundo turno, o tema deverá ser amplamente explorado por quem estiver disputando com ele).

"Nenhum tostão! Você não repassou nenhum tostão ao município. O senhor é um belo contador de história, deputado", disse o prefeito.

A parte do debate mais tensa, no entanto, foi aquela na qual o candidato Ildon Chaves pediu  a Roberto Sobrinho para explicar ao eleitor  porque está inelegível e terá os seus votos contados em separado pela Justiça Eleitoral. O promotor aposentado se referia a decisão do Tribunal Regional Eleitoral de Rondônia de manter o indeferimento do pedido de registro de candidatura de Roberto por este estar inelegível por força da Lei da Ficha Limpa.

Visivelmente nervoso, Roberto negou-se a entrar na questão, e disse que não tinha satisfações a  dar ao adversário. Ildon  respondeu: "Me envergonho de vê um candidato com sua  ficha criminal.  Sinto-me enojado de debater com o senhor".

Foi a gota d' água para o petista. "Que moral você tem para falar de mim. Tenho um patrimônio de R$ 600 mil declarado; você tem R$ 11 milhões que ninguém sabe como conseguiu sendo promotor de justiça. Teu passado é escuro. Você não saiu porque quis do MP. Se não saisse, ia ser botado pra fora", vociferou o petista , para angústia do adversário, que teve seu direito de resposta negado.

RESUMO

No geral, o debate foi importante para que o eleitor tivesse mais uma oportunidade de, nesta reta final da campanha, avaliar melhor a proposta dos candidatos, mas foi frustrante pela falta justamente dessas propostas, que se resumiram a promessas vagas, dessas que os políticos não se cansam de martelar   a cada eleição: investir na saúde, na educação, no saneamento básico... e agora com uma palavra nova- mobilidade urbana.

AVALIAÇÃO DOS DEBATEDORES

MAURO NAZIF (  PSB)  - 8-  apesar de ser o principal alvo, se saiu bem, não ficou na defensiva e acertou belos cruzados nos adversários.

ILDON CHAVES  ( PSB)  - 7-  Foi bem nas perguntas e nas respostas, mas ficou atrapalhado no embate com Roberto Sobrinho, deixando no ar as graves suspeitas levantadas pelo ex-prefeito.

ROBERTO SOBRINHO (PT)  - 6 -  Quem esperava encontrar no candidato  uma galinha morta, se deu mal. Com um discurso afiado, o ex-prefeito não deixou nenhuma provocação sem revide e não teve vergonha de usar golpes baixos. Para ele valia tudo: dedo no olho, soco abaixo da linha da cintura...e até nas chamadas partes baixas.

LÉO MORAES ( PTB) - 6 - Inexplicavelmente, foi poupado pelos adversários´, mas escorregou numa casca de banana  atirada por Mauro Nazif.

WILLIAMES PIMENTEL ( PMDB) - 6 - Suando mais do que tampa de chaleira, o candidato chapa branca também foi poupado.

RIBAMAR ARAÚJO ( PR)  - 3 - Ruim de discurso - e com uma dicção pior ainda -, fez o telespectador sentir falta do candidato Pimenta de Rondônia (PSOL), vetado pela TV Rondônia por estar mal na pesquisa IBOPE.