Em Linhas Gerais - Gessi Taborda

Aproximando-se do dia do jornalista, fico perplexo de como o jornalismo desses tempos se acanalhou tanto.

Publicada em 04 de April de 2015 às 04:27:00

Gessi Taborda – [email protected]

(CRÔNICA)

PARECE QUE FOI ONTEM


Não é questão de puro saudosismo, claro que não. Mas sempre que nos aproximamos do 7 de abril, Dia do Jornalista, me bate a lembrança de como era fazer jornal lá pelos idos de 1970. Às vezes chego a ficar assustado de como o jornalismo desses tempos se acanalhou tanto, não importando em que plataforma é produzido e nem o tamanho do veículo.

Queria o que? Vê lá se chegávamos a imaginar ligar a TV para ver uma mocinha de rosto bonito fazendo o papel de repórter e atendendo pelo apelido de “Rabo de Arraia”, por sinal de péssimo gosto, por jornalista (âncora) tão experiente como o Marcelo Rezende, em rede nacional. Afinal nos tempos idos o máximo a que se poderia chegar era a Gil Gomes, tão imitado, mas nunca igualado. Hoje é isso: um jornalismo caricato, com “focas” fazendo o papel de comediantes sem graça nenhuma.

Depois vêm as aberrações do jornalismo impresso, onde não se cultiva mais nem os métodos de se “pentear o texto”, de preservar rudimentos da última flor do Lácio, pois a figura do revisor foi morta e enterrada para sempre. E então, com a absoluta falta de tempo dos dias atuais, quando muito só se usa a ferramenta de correção do próprio “Word”.
O pior de tudo, creio, foi terem matado a reportagem. E ai vem o saudosismo das reportagens que li, das que participei produzindo e das grandes figuras das redações do meu tempo.

Não faltavam figuras pitorescas nos jornais de antigamente. E assim lembro com ternura dos paginadores dos tempos da composição de chumbo, como a figura inesquecível do “sô” Décio, que ia seguindo o diagrama na montagem das linhas de linotipo nas ramas.

E aqui em Porto Velho, logo que cheguei, e encontrei o mestre Natalino, na diagramação, o Flávio Gelensk, no fotojornalismo, o Carlinhos Araujo, no past-up...

É comum em conversas com colegas mais antigos de profissão divagações sobre como conseguíamos fazer jornal antes do advento da internet. Quando comecei a trabalhar em redação, no século passado, os textos eram escritos em laudas e datilografadas em duas vias (um bom papel carbono era essencial na mesa do repórter).

E parece que foi ontem se não tivéssemos perdido nas curvas do tempo a verdadeira plêiade de colegas tão repórteres, tão jornalistas e ao mesmo tempo tão humanos em sua mais bela dimensão.

Os melhores jornalistas eram os formados nas melhores redações. As reportagens, depois de passadas pelo crivo de editores, eram diagramadas com base no número de linhas e largura das laudas, e o texto enviado para digitação, revisão, past up, enfim, uma trabalheira inadmissível diante dos avanços tecnológicos.

Os jornalistas da jovem guarda não podem imaginar como a profissão tinha o sacerdócio como um de seus melhores ingredientes. Isso no tempo em que o grande avanço era o telex.

Os textos das agências nacionais e internacionais chegavam via telex. Os vários aparelhos receptores ficavam numa salinha apertada, no fundo da redação, e as notícias, depois de devidamente separadas por tema (economia, internacional, política), por um assistente, eram encaminhadas às respectivas editorias para a feitura do copydesk.
Isso porque os textos, como em qualquer telegrama, vinham em letras maiúsculas (forma de escrever que, na internet, é considerada ofensiva e grosseira) e sem acentuação ou pontuação. O responsável, então, tinha de grifar as letras maiúsculas, indicar parágrafos etc. e então encaminhar para a digitação. Hoje, já está tudo no “sistema”, graças à internet.

Nenhum jornal na minha época tinha “fechamento” antes de 22 horas. E quase todos ainda mantinham um plantão preparado para, se necessário, fazer o segundo clichê, mostrando ao leitor como estávamos capacitados a acompanhar de fato e praticamente em cima da hora os mais importantes acontecimentos das últimas 24 horas.

Então é isso, meninos. Estou no rol dos jurássicos. Vim dos tempos em que jornalistas tinham o hábito a obrigação de ler sempre, livros e mais livros. Assim como tinham (os melhores repórteres) o caderninho de fontes que eram constantemente consultadas para confirmar simples informações, bem diferente de hoje quando o socorro e a pesquisa chegam viam Google e nada mais.

Era assim, meninos, que nós das redações evitávamos nosso maior pesadelo, a “barriga”, uma espécie de bola fora que deixava morto de vergonha o profissional da imprensa!

Gosto de lembrar esses tempos não por uma simples questão de saudosismo, mas para não esquecer de algumas boas práticas do jornalismo, que incluem não só a simples checagem da grafia dos nomes, mas, principalmente, a checagem de informações.

E se me pedem algum tipo de opinião não deixo de dizer: jornalista não deve, nunca, desligar o “desconfiômetro”, principalmente no mundo virtual. Com a internet, esse instrumento riquíssimo de possibilidades e informações, o simples ato de desconfiar de qualquer coisa parece ter se perdido.

Hoje há enormes “vantagens” de se praticar essa profissão que no passado era desenvolvida como uma espécie de religião cheia de dogmas.

E graças a isso, para aproveitar melhor esses dias de descanso no feriado prolongado da Páscoa, estou usando o espaço da coluna para a crônica, exatamente para não ficar preso ao desconfiômetro fundamental ao jornalista que se dedica ao colunismo político.

Nesse jornalismo em que o press-release passou a ser matéria prima principal até o simples ato de desconfiar de que alguma coisa pode estar errada na informação parece ter se perdido, fazendo com que as erratas e o direito de resposta – especialmente na mídia virtual – se transformassem em mera rotina.

PAREM DE METER A MÃO

A corrupção é (ou deveria ser) uma das maiores preocupações das autoridades públicas rondonienses. A cada dia ela deixa de ser um acontecimento pontual para se tornar uma praxe política.

Ninguém escapa dessa praga que está presente até em pequenos (e mais novos) municípios do estado, como aconteceu agora com Buritis, onde a Justiça precisou determinar o afastamento do prefeito e de vários vereadores pegos com a boca na botija.

É preciso marcação cerrada para tirar da vida pública gestores que insistem manejar o dinheiro público como se fosse propriedade particular, de onde os governantes podem tirar vantagem, enriquecendo-se ilicitamente.

Se a Justiça e órgãos do controle externo não agirem de forma rigorosa, metendo na cadeia esse tipo de ladrão do colarinho branco, não veremos tão cedo as mudanças de comportamento desse pessoal acostumado a meter a mão no erário, estimulado pela impunidade.

VEREADORES CALADOS

Até na câmara municipal de Porto Velho, pelo visto, existe da parte dos vereadores uma falta de compreensão do que é coisa pública. Deve ser por isso que não reagiu a denúncia de que o presidente da casa foi dar uma esticada a Belém levando a tiracolo o motorista, num verdadeiro weekend custeado com o dinheiro público, incluindo gordas diárias.
Diante do muxoxo dos vereadores, para eles quando se fala da coisa pública, em qualquer nível – federal, estadual e municipal –, fica a impressão de que todos podem pôr a mão. Por isso seria natural pagar “passeios” disfarçados na agenda oficial, com o dinheiro do contribuinte.

NÃO, NÃO PODE SER ASSIM!
Afinal, é coisa pública. Certo? Não. Fica também a impressão de que todos podem levar vantagem. Certo? Também não. É coisa pública porque é financiada por nós, que pagamos impostos e taxas, e delegamos poderes, por meio do voto, para que alguém administre esse bem chamado município, estado ou nação.

O conjunto dos vereadores deveria – em casos como esse - respeitar o preceito da dignidade e honestidade, mas não é assim que funciona. E os erros são fomentados pela inércia dos próprios representantes que elegemos, incapazes de identificar num fato como esse a quebra do decoro parlamentar, reforçado pelo patrocínio das despesas do motorista, incluindo-se além das despesas com as passagens aéreas as robustas diárias.

Já que os próprios vereadores não tomam iniciativa para exigir mais respeito com os recursos públicos, as esperanças dos cidadãos ficam depositadas numa ação do Ministério Público e do TCE exigindo do presidente da Câmara o ressarcimento aos cofres públicos desse dinheiro praticamente jogado fora.

CEDO DEMAIS

Amir Lando reapareceu na cidade. Ontem foi visto fazendo compras numa loja de departamentos da Avenida Jorge Teixeira. O histórico político do PMDB rondoniense – que chegou a ser Ministro da Previdência – ainda está acreditando na possibilidade de assumir uma cadeira na Câmara dos Deputados, “diante de uma realidade nada positiva para Rondônia, que tem alguns dos membros da bancada com possibilidades de sofrer cassação”.

Sobre a disputa eleitoral do próximo ano, Amir simplesmente disse que não está decidido por uma candidatura a prefeito, cargo que já quis disputar e acabou sendo barrado pelo seu partido que, na época, preferiu não ter candidato próprio. Em relação à disputa de 2018 para a sucessão do governo estadual, Amir Lando considera cedo demais para tomar uma decisão desse gênero.

PUTAS E ADOLESCENTES

A Câmara dos Deputados criou anteontem 13 comissões especiais para debater projetos polêmicos e atingem temas sensíveis tanto às alas conservadoras quanto às mais liberais. Se por um lado haverá comissão para discutir a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, por outro um grupo vai trabalhar sobre um projeto que regulamenta a prostituição. Os profissionais do sexo, segundo o projeto, poderão atuar de forma autônoma ou em cooperativa e terão direito a aposentadoria especial com 25 anos de serviço.

SEM COGITAR
É certo que ao perder a indicação para a disputa pelo governo em 2014 para Jaqueline Cassol, a relação entre o deputado Maurão de Carvalho com o ex-governador esfriou muito.
Maurão, que chegou a pensar em encerrar a carreira política acabou se reelegendo mais uma vez. Deu a volta por cima ao se tornar candidato único na disputa pela mesa da Assembleia Legislativa, onde faturou o primeiro mandato de presidente. Como presidente da Assembleia o parlamentar vive um momento de grande exposição na mídia e já está cotado por vários políticos como “candidato natural” para a disputa do governo em 2018.
Maurão, por sinal, evita se posicionar sobre uma possível nova candidatura ao governo. “Hoje eu não cogito”, diz. O deputado, calejado muitas disputas eleitorais acrescenta: “Quem se posiciona como candidato muito cedo é porque sabe que não tem chance de ganhar”.

TRUQUE DE MADAME

Ontem recebi um press-release da Câmara anunciando que a vereadora comunista (??) Elis Regina está p* da vida com o prefeito Mauro Nazif, de quem até recentemente era uma aliada confessa. Pelo informe, a vereadora promete forçar a Câmara a propor uma ação de improbidade contra Gilson Nazif (irmão do prefeito) que mesmo sem ser titular de coisa alguma está dando as cartas na Semob, onde o titular não passa de uma marionete.
E tudo isso – sempre de acordo com o informe – porque Gilson não cumpre palavra assumida com os vereadores em relação à operação tapa buracos que, pelo visto, é a única ação visível desse prefeito lamentável.

É DO BARALHO

A mim a querela entre vereadores e prefeito serve só para ilustrar como nós, moradores da cidade, estamos no mato sem cachorro. Tapa buracos! Se o caradurismo dessa gestão não fosse tão exagerado eles deveriam ficar pelo menos corados diante dessa situação de abandono em que uma mera operação tapa-buracos acaba mexendo com os nervos da edilidade.
Essa situação realça ainda mais que a prefeitura no comando desse Nazif não vai conseguir aplicar soluções inovadoras na gestão de seus serviços e recursos com o objetivo de melhorar a qualidade de vida de nós, cidadão que pagamos os impostos.

A MENTIRA DE SEMPRE
O prefeito que ai está comprava cada dia no cargo que não passa de mais um gestor mequetrefe, rodeado por um séquito de “luas pretas” sem se preocupar com o nepotismo ou até com a própria cidadania republicana. É exatamente esse prefeito que quando era deputado e estava na disputa pelo paço garantiu que Porto Velho seria a “cidade digital”, vendendo a falsa imagem de que ele era o homem das inovações tecnológicas.
A verdade é que com ele Porto Velho avança (se é que isso pode ser chamado de avanço) na direção contrária, pois vivencia um prefeito que deve entrar na história como um dos responsáveis pelo atraso em que estamos.

EDILIDADE MIOPE
E só os vereadores ainda não parecem ter percebido isso: a promessa da campanha de Nazif de que nossa capital seria reposicionada como uma das principais cidades da região norte, com uma gestão inovadora e criativa. Ora uma “cidade inteligente” com um prefeito do nível desse Nazif, só mesmo no conto da carochinha.
E com vereadores que demoraram mais de dois anos para descobrir, finalmente, que a prefeitura passou a ser uma espécie de feudo familiar que – reclamam eles – não dá bola nem para Câmara, vai ser difícil visualizar no horizonte quando Porto Velho terá sua governança com capacidade de planejar e desenvolver soluções, de forma definitiva e contínua, para seu crescimento sustentado e com foco no benefício ao cidadão.