Em Linhas Gerais: Não dá para montar um bom secretariado tendo que atender a tantos interesses

Gessi Taborda

Publicada em 31 de October de 2014 às 10:53:00

PRIMEIRO DESAFIO

O que dizem agora os partidários mais próximos do governo reeleito em outubro: que Confúcio Moura já está estudando a montagem do secretariado da próxima gestão e que pretende surpreender Rondônia ao anunciar nomes de excelente currículo.

Esta não é a opinião de quem entende de gestão pública. Quem entende desse riscado sabe que é impossível montar uma boa equipe de secretários e presidentes de empresas estatais estaduais tendo que atender a tantos interesses.

Além da montoeira de partidos da coligação vitoriosa, há também os grupos econômicos, as empreiteiras e os caciques políticos (como os senadores Raupp e Acir Gurgacz) que vão indicar secretários de estado. Isso é elementar.


VAI FALTAR ESPAÇO


Confúcio precisará atender muitos interesses e não terá espaço para indicar os nomes de sua confiança pessoal, mesmo se esse número não passar da meia dúzia. Certamente na segunda quinzena de novembro deve começar a guerra de bastidores entre todos aqueles que já estão de olho em cargos bem remunerados e de destaque. Agora é esperar como Confúcio vai lotear o próximo governo. Pelo menos um consolo: Roberto Sobrinho – nome cogitado ainda antes do final da eleição para compor o secretariado – não deverá ser aceito como Secretário da Fazenda. Mas não está descartado para a Educação.


E DÁ PARA DESCANSAR?


A Câmara derrubou e agora a bola está com o Senado, que deve seguir a decisão dos deputados. Estou falando do Decreto 8243, uma tentativa de se criar já por nosso amado Brasil a espécie cabocla dos “soviets”, marotamente batizada nesse país que continuará refém das manobras dessa “esquerdopata” de “democracia direta”.


OBJETIVO

Esses “soviets” disfarçados tem o objetivo de “fortalecer e articular os mecanismos e as instâncias democráticas de diálogo e a atuação conjunta entre a administração pública federal e a sociedade civil” e define esta “sociedade civil” como de “cidadão, os coletivos, os movimentos sociais institucionalizados ou não institucionalizados, suas redes e suas organizações”.

O tal decreto – até agora derrubado só na Câmara dos Deputados – daria poder para os bolivarianos, possibilitando fortalecer “a participação popular” através dos “conselhos populares” que podem inclusive “assegurar a criação de marco legal para a prevenção e mediação de conflitos fundiários urbanos, garantindo o devido processo legal e a função social da propriedade”.

Traduzindo: se alguém invadir sua área, sua fazenda ou sua casa, esse conselho vai se reunir com o invasor e definir quem de fato tem direito sobre a propriedade.


TARIFAÇO

A temporada de reajustes pós-eleição já está chegando. O reajuste da tarifa de energia elétrica para Porto Velho deve chegar próximo dos 50%. No mundo a gasolina caiu de preço. Nos estados unidos o consumidor paga menos de 2 reais o litro. Aqui o combustível vai subir também de forma absurda. É o tarifaço de agradecimento a quem decidiu dar mais 4 anos ao PT. E o governador rondoniense? Até agora não se mexeu para fazer pressão em favor do povo. Todos terão de pagar sem tugir e nem mugir.


ARTISTA

Ninguém conseguiu compreender como o ex-deputado e atual sentenciado como responsável pelo desvio de milhões de reais da Assembleia Legislativa, Marco Donadon, terá vaga garantida no Curso de Teatro da Unir. Certamente deve ter conseguido aprovação no Enem.

Todo mundo ficou pasmo com a divulgação dessa nota pela mídia. Bobagem. Diante dos episódios para roubar o dinheiro da Assembleia não dá para duvidar da capacidade de interpretação de tragédias (ou comédias?) com roteiro baseado em ações de esbulhos desse ex-parlamentar.

Dizem as “candinhas” das coxias políticas locais que Donadon está pronto para estrelar outras grandes produções antes mesmo de pegar o canudo universitário. As “candinhas galhofeiras” sugeriram o título para o estrelato do moço: “O Ladrão de Bag(re)Dá”, dando a entender que o futuro astro deve ter feito muitas oficinas na cadeira para compor o personagem.


INQUÉRITO, INVESTIGAÇÃO


Especialmente os sindicados, que representam servidores públicos, deveriam cobrar providências trazer a tona os lances e os personagens da “apropriação indébita” de vários milhões dos recursos do Iperon (leia-se servidores) feita pelo próprio governo para pagar folha dos servidores. E assim se evitou os efeitos dessa bomba na eleição recente. E dizem que isso é apenas a ponta do iceberg.


NÃO É DENUNCISMO


Foi com denúncias quase diárias durante o tempo em que foi parlamentar que Mauro Nazif conseguiu eleições sucessivas e pavimentou o caminho para chegar à prefeitura de Porto Velho. E agora, quem construir sua trajetória pela via do denuncismo está correndo o risco de sofrer um impeachment no palco da política.


MALA & CANETA


Um cronista com longa vivência na Câmara Municipal garante o óbvio: “o prefeito não será cassado e muito menos afastado”. Essa afirmação apenas reforça a antiga constatação de que também no parlamento municipal prevalece aquela velha estória do toma lá dá cá. Eu também não creio em qualquer punição ao prefeito. Afinal, ele tem a caneta que nomeia e emissários com malas pretas e sempre prontos a convencer os mais renitentes.

Nem por isso sou da opinião de que Nazif sofre apenas a ação do denuncismo. Com ele há várias comprovações de que colocou em risco o erário público, com gastos desnecessários, incomuns, lastreados em editais de licitação mal feitos ou direcionados malandramente para benefícios estranhos à gestão pública.


A LUPA DO TCE
Muita grana não foi ainda jogada no ralo em virtude da lupa dos conselheiros do TCE, especialmente de Valdivino Crispim de Souza. Agora mesmo esse conselheiro considerou ilegal mais um desses editais, dessa vez num valor aproximado de 15 milhões de reais, para a contratação de empresa especializada em recuperação e manutenção de pavimentos, execução de baias de ônibus, sinalização horizontal, entre outros serviços.

Dá para perceber facilmente o interesse de alguém próximo a Nazif tirar coelhos da cartola. Ora, o prefeito vangloriou-se tanto de ter comprado centenas de máquinas e equipamentos. Por que não usa esses equipamentos para esse tipo de serviço rotineiro em qualquer gestão municipal?

Ainda bem que o TCE determinou a anulação desse fedorento edital.


INSISTINDO NA ESBÓRNIA


O alcaide – possivelmente interessado em concorrer ao título de pior prefeito de Porto Velho desde os tempos em que o território foi transformado em estado – insiste sempre nessa esbórnia. Até para simplesmente inverter a direção de trânsito na Sete de Setembro o prefeito tentou torrar uma tremenda grana com a conversa da consultoria. Depois veio a questão da contratação de empresa especializada na coleta e tratamento do lixo da capital.


Muitas outras prosaicas tentativas de editais com claro direcionamento não avançaram graças às diligências e análises do TCE. Desse jeito Nazif corre o risco de terminar num mar de lama como o de seu antecessor. Roberto foi ter o seu primeiro contato com a cadeia, para onde corre sério risco de voltar. A Câmara Municipal pode até não punir Nazif, mas se ele continuar nessa rota de engabelação sofrerá consequências pesadas no âmbito do Judiciário. Isso pode.