Em Linhas Gerais: Porto Velho, cem anos de um azar enorme quando se trata de gestão pública

Gessi Taborda

Publicada em 26 de January de 2015 às 14:12:00

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PURIFICAÇÃO

Dessa vez o feriado de sábado passou em branco. Não houve comemoração. Então que seja a coluna de abertura da semana no estilo de crônica. Usemos a crônica, como ferramenta de purificação para esses dias tão turbulentos.

CIDADE CENTENÁRIA
De uma coisa todos temos certeza: a história sempre continua. E ai está a Porto Velho de hoje, centenária em fundação da cidade ou instalação do município.

O que se fala da cidade hoje é o que se passa pelos noticiários dos meios de comunicação, deslocando-se do privado ao público numa acepção que seria impensável quando a cidade era arrancada dos tempos do território.

A nossa Porto Velho contemporânea está contemplada por novos e modernos atrativos. Temos até shopping-center que mais funciona como uma praça pública e point de lazer; fazendo alguns se esquecer dos muitos escândalos cometidos em nome de dotar a cidade de praças públicas decentes que, como se vê, até hoje ainda não aconteceu.

TENSÃO
A centenária cidade é um local de muita tensão. Quem é do tempo em que o maior prédio da cidade era o Edifico Tourinho, que fica atrás do agora chamado Mercado Cultural, reconhece a mudança da situação urbana diante de nós.

A situação urbana evidencia-se pelos muitos prédios que se multiplicaram como casas de moribundos nos mais diversos bairros da cidade.

A explosão imobiliária apenas da especulação imobiliária seguindo a máxima capitalista. Ela também retrata a insegurança que tomou conta dos habitantes das casas, cada vez mais vulneráveis à falta do planejamento público nesses anos todos.
Muitas residências foram assaltadas por bandidos cada vez mais açodados. Os moradores, procurando segurança, passaram a comprar ou alugar apartamentos. Os mais passaram a construir mansões cada vez mais parecidas com bunkers, em bairros mais distantes do centro.

MUITO RÁPIDO

O enredo do crescimento de Porto Velho é o mesmo de qualquer grande cidade do país. Quem viveu aqui desde os tempos em que o Rondônia entrou no processo de transformação de território para estado, sabe que o crescimento foi muito rápido. Isso caracteriza o centro.

Na periferia que era bosque e floresta a menos de 40 anos, hoje exibe muitos bairros, ruas, casas e até mesmo parques residenciais que abrigam a classe mais abastada.

Cresceram os núcleos habitacionais, mas, por outro lado aconteceram fenômenos difíceis de explicar. Por exemplo, o transporte urbano que era ruim ficou pior. A urbanização foi relaxada em termos de ruas mais largas; de espaços de convivência comunitária, etc, etc. A cidade chegou aos 100 sem um aceno de modernidade na administração municipal.

A TRÍADE DESAFIADORA

É difícil não acreditar na existência de um azar enorme de Porto Velho quando se trata de gestão pública. Praticamente, depois da transformação do território em estado, nossa capital nunca teve um prefeito de destaque, que prestasse.
A tríade que desafia qualquer administração: educação, saúde e segurança – é ressaltada no presente muito mais que no passado. A educação dilatou seu campo em termos de alunado e nem sempre em termos de professorado. Explodem sempre as notícias de que faltam mestres para matérias específicas, sobretudo aquelas da área das ciências exatas.
Não faltam também reclamações de todos sobre a obliteração do tráfego, atingindo toda a população. Outro quesito da tríade: a insegurança pública é confirmada todos os dias em roubos, assaltos, homicídios e, agora, até em casos de balas perdidas...

A proliferação de marginais, alicerçada pelo crescimento populacional e, também, pelo crescimento do consumo de drogas, somado à carência de empregos, é um problema cada vez mais ameaçador para essa cidade que completou seu centenário.

SAÚDE

O atual prefeito da cidade de Porto Velho é médico. Mas isso não significou melhorias para esse segmento e da vida portovelhense. Quem precisa procurar uma unidade de saúde do município pode até piorar de situação diante da precariedade do atendimento.

Afinal, diante desse quadro desanimador, não chegou a ser surpresa ver a cidade mais vez inserida no noticiário nacional sobre as deficiências, diante do descalabro registrado em UPAs recentemente inauguradas. É isso mesmo: são postos de saúde que vivem lotados, sujeitos à falta de pessoal – quase sempre mal remunerados –, de remédios e vai por ai afora.

E O FUTURO?

A prefeitura desistiu, no último momento, da realização de um evento (chinfrim, como sempre) para comemorar os 100 anos de instalação do município. Uma clara demonstração de quem enquanto a cidade não encontrar um prefeito à altura de seus desafios, seu destino será o fatalismo.

A cidade, claro, deverá sofrer ainda mais o adensamento demográfico, o crescimento populacional. Mas isso não é nada alvissareiro. O que nos espera é mais descaracterização se continuarmos a ter no comando da prefeitura novos prefeitos com a mesma incapacidade de promover mudanças positivas.

Talvez seja por isso que o atual prefeito acabou desistindo de comemorar de forma digna o centenário de instalação do município de Porto Velho.

Com gente como Nazif, a nossa centenária urbe vai ganhar cada vez mais a mesma cara, sem uma estrutura que faça com que seus moradores vivam todos os benefícios da era moderna.

Num ponto até parece que a gestão Nazif acertou ao cancelar as comemorações. A cidade não pede festa, pede auxílio para suas ruas esburacadas, pede socorro para não ser mais vítimas das inundações, provocadas por qualquer chuvinha.
Porto Velho chega ao seu centenário sonhando com a possibilidade de se deslumbrar com as próximas eleições, de 2016, se conseguir se livrar desses prefeitos de ficção que nas ultimas décadas tem ocupado o paço municipal.