Idoso que matou genro com tesoura é inocentado em Vilhena 

Os jurados entenderam que o aposentado agiu em legítima defesa.

Publicada em 19 de September de 2016 às 09:42:00

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Autor do golpe de tesoura que causou a morte de Airton dos Reis da Silva, de 54 anos, o aposentado Abílio Neves Pereira, 74, foi levado a julgamento na manhã desta sexta-feira, 16, e absolvido da acusação. Os jurados entenderam o idoso, padrasto da esposa de Airton Alicate, como o autônomo era conhecido, agiu em legítima defesa.

O crime aconteceu no dia 09 de fevereiro deste ano, na casa onde vítima e réu moravam. Naquele dia, segundo os autos, os dois discutiram porque a vítima cobrava do réu que ajudasse com as despesas da casa, e teria imposto ao sogro que iria com ele até o banco para pegar determinado valor. Em meio à discussão ríspida, Abílio feriu Alicate no peito com uma tesoura.

Mesmo ferido, o autônomo permaneceu consciente e foi levado por uma unidade do Corpo de Bombeiros ao pronto-socorro do Hospital Regional de Vilhena. Mas, o golpe atingiu a veia aorta, causando uma hemorragia que resultou na morte de Alicate.

Hoje, a viúva de Alicate, enteada do réu, confirmou os problemas e cobranças por maior participação do idoso nas finanças da casa, e disse que naquela noite Airton teria cobrado Abílio e dito que no outro dia iria com ele no banco para pegar o dinheiro. Tal conversa teria acontecido na sala e, em seguida, cada um saiu para seu quarto. Instantes depois, segundo a viúva, Abílio teria ido ao quarto do casal, armado com uma tesoura e dizendo “vagabundo nenhum vai ao banco comigo”, desferiu o golpe, saindo do local após desferir o golpe. 

O réu também foi ouvido e contou uma versão semelhante à da enteada, até o início das agressões. Na versão do réu, foi Alicate que o chamou ao quarto e, quando ele chegou, teria sido agarrado pela vítima, que lhe segurando pelo pescoço, o arrastava para pegar um martelo que estava perto do guarda-roupa. Abílio disse que avistou a tesoura em cima da penteadeira, a pegou, e quando viu que Alicate iria pegar o martelo, o atingiu com a tesoura para que ele o soltasse.    

O Ministério Público, representado pelo promotor de justiça João Paulo Lopes, pugnou pela condenação do réu por homicídio simples. Em sua fala, Lopes apontou contradições nos depoimentos do réu. “Quando se apresentou ao delegado, cerca de dez dias após o crime, ele, contou uma versão diferente, disse que quando a vítima o chamou ao quarto, percebeu que ela estava com o martelo na mão e veio em sua direção o agarrando; contou que conseguiu se esquivar do martelo e aí pegou a tesoura e feriu a vítima. Uma versão diferente de hoje, e diferente também da versão da esposa da vítima, que afirma que ele foi ao quarto sem ser convidado e armado com a tesoura com a qual feriu Airton”, argumentou Lopes que não voltou para réplica.

A defesa do aposentado foi feita pelo defensor público George Barreto Filho, que sustentou a tese de legítima defesa. Barreto Filho argumentou que as contradições envolvendo o martelo não mudavam em nada a legítima defesa. 

Para o defensor, existia uma relação familiar desgastada com cobranças e trocas de acusações. E naquela data específica, as coisas ficaram mais tensas com a cobrança mais veemente, que gerou uma discussão que culminou com o golpe. “Foi um golpe só, se quisesse matar teria continuado desferindo os ataques, mas não o fez; golpeou para se livrar da agressão e saiu dali. Infelizmente, o golpe atingiu a aorta e causou a morte de Alicate. Mas, não era essa a intenção do réu”, argumentou Barreto Filho, que sustentou ainda como tese secundária o homicídio privilegiado. 

Por fim, após quase 5 horas de julgamento, juíza presidente do Tribunal do Júri, Liliane Pegoraro Bilharva, leu a sentença na qual os jurados acataram a tese de legítima defesa e inocentaram o réu. 

O promotor João Paulo Lopes disse que irá analisar se recorre ou não da decisão. 

Fonte: Folha do Sul 
Autor: Rogério Perucci