Lava-Jato: PF liga doleiro aos Cinta Larga na extração de diamantes em terras indígenas

Agenda de Chater indica movimentação de recursos da venda ilegal de gemas.

Publicada em 28 de November de 2014 às 09:40:00

CLEIDE CARVALHO /O Globo


SÃO PAULO - O doleiro Carlos Habib Chater é suspeito de participar da extração ilegal de diamantes nas terras dos índios cinta-larga, entre Mato Grosso e Rondônia, e de movimentar recursos da venda ilegal de gemas no exterior. A Polícia Federal apreendeu na agenda de Chater uma anotação com o nome de Raimundo Cinta Larga e o número de uma conta corrente em Cacoal (RO), onde o indígena mora.

Raimundo é filho do cacique João Bravo Cinta Larga, visto como empreendedor por ter feito uma hidrelétrica de pequeno porte no Rio Roosevelt, por criar gado e peixes para vender. Nos dados extraídos do programa Money, que serve para gerenciar finanças pessoais mas, segundo a PF, também é usado para controle paralelo de contabilidade de empresas, o nome “Raimundinho” aparece como destinatário de oito remessas de dinheiro em 2013, num total de R$ 21.450,00.

No início da Operação Lava-Jato, a PF colheu indícios de que Chater teria se unido a Francisco Angelo da Silva e Júlio Luís Urnau para atuar na extração ilegal de diamantes, por meio da Cooperativa Extrativista Cinta Larga de Rondônia (Coopecilar). Raimundo Cinta Larga é presidente da Coopecilar. Nas movimentações financeiras de Chater, constam despesas de viagem a Cacoal de uma pessoa identificada como “Júlio”. Em março, Urnau foi levado coercitivamente a depor na PF.

DOLEIRO E SÓCIO TINHAM CASA DE CÂMBIO

Júlio Urnal é ex-secretário adjunto dos Transportes do Distrito Federal, ligado ao grupo de José Roberto Arruda, ex-governador do DF condenado por improbidade administrativa por participar do esquema de corrupção conhecido como mensalão do DEM.

O advogado Raul Canal afirmou que a Coopecilar nunca retirou um diamante da terra indígena e que foi criada para lutar pela regularização da extração pelos próprios índios. Segundo ele, há duas ações em curso que pedem que o garimpo feito pelos cinta-larga seja autorizado pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).

Ele afirmou que Urnau e Chater eram sócios numa casa de câmbio chamada Valortur e que financiaram a cooperativa dos cinta-larga durante alguns meses porque pretendiam, depois que a extração fosse legalizada, atuar na venda de diamantes. Segundo ele, Chater não cumpriu o trato e parou de financiar.