Malária tem que ter diagnóstico perfeito, alerta Agência Estadual de Vigilância em Saúde

A boa notícia: o percentual rondoniense de malária baixou.

Publicada em 27 de April de 2015 às 11:12:00

No Dia Mundial de Controle da Malária (25), o Estado de Rondônia teve motivo para comemorar e também para lamentar. A notícia ruim: no biênio 2013-1014 garimpos e enchentes influenciaram o aumento dos casos de falcíparum, a mais perigosa, causadora de 80% das infecções e 90% das mortes pela enfermidade, constatou a Agência Estadual de Vigilância em Saúde (Agevisa).

A boa notícia: o percentual rondoniense de malária baixou. A Incidência Parasitária Anual (IPA) 2010-2014 revela essa queda: 27,5 em 2010, 18,9 em 2011, 15,2 em 2012, 9 em 2013 e 5,9 em 2014. IPA expressa o número de exames positivos por mil habitantes, em determinado lugar no período de um ano.

Em termos de redução de casos, Rondônia acompanha a tendência nacional de queda, informa o coordenador estadual do Programa de Controle da Malária, médico veterinário Roberto Nakaoka. “Bem diferente de 1987, quando respondíamos por 50% dos casos ocorridos no País”, ele frisa.

Falcíparo agora faz parte dos objetivos do milênio, e já começam os esforços para erradicá-la mundialmente dentro de 30 anos. Na Amazônia, onde se concentram 99,6% dos casos de malária, foram identificados mais de 177 mil em 2013, enquanto em 2012 eles totalizavam 241 mil. Sessenta pessoas morreram em 2012 e 36 em 2013.

A malária, cuja forma de transmissão foi descoberta em 1898 pelo pesquisador Ronald Ross, ainda é um problema de saúde pública. “O tratamento deve ser completo; ao sentir o sintoma, a pessoa deve buscar socorro no primeiro dia”, apela a diretora da Agevisa, médica epidemiologista Arlete Baldez.

“O diagnóstico é o ponto forte no controle”, afirma o médico Roberto Nakaoka. Segundo ele, o estado proporciona a capacitação e atualização de microscopistas, a fim de garantir boa qualidade no que diz respeito a soluções de controle integrado: vigilância, controle vetorial, diagnóstico, tratamento, educação e saúde.

Um grupo de servidores participa de força-tarefa para atuar nos municípios em situação crítica. Ou seja, atua de maneira complementar com ações de controle vetorial em casos de surto. Há 15 dias, por exemplo, esse grupo encerrou 21 dias de trabalho em Candeias do Jamari, em conjunto com a secretaria municipal de saúde.

Nessa operação, conforme explica Nakaoka, eliminam-se as fêmeas do anofelino e se faz a busca ativa de casos, paralelamente ao tratamento supervisionado. “Dessa maneira, somamos o controle vetorial ao diagnóstico e tratamento”, assinala.


Arlete Baldez e Roberto Nakaoka
Em 2013, sete municípios estavam classificados em médio risco, e no ano passado, apenas três. Os de baixo risco decresceram de 39 para 33; e os municípios sem transmissão, aumentaram de cinco para 15. São eles: Cabixi, Cacoal, Castanheiras, Cerejeiras, Colorado do Oeste, Chupinguaia, Mirante da Serra, Ministro Andreazza, Nova Brasilândia, Nova União, Rolim de Moura, Teixeirópolis, Vale do Paraíso, Vale do Paraíso e Vilhena.

Conforme Nakaoka, desde 2010 existe controle maior à doença no município de Porto Velho e distritos, mas ainda não foi possível evitá-la no entorno da capital. A Agevisa considera Candeias do Jamari [a 21 quilômetros] área receptiva ao mosquito anofelino. “Assentamentos, garimpos e invasões urbanas estão enquadrados nesse aspecto. Na capital, os bairros Nova Esperança e Nacional correm esse risco”, assinala.

Diferença entre os anos 1970, 80 e 90 do século passado: naquela época, resultados de exames eram encaminhados a Brasília por correspondência dos Correios. Hoje funciona uma rede de laboratórios online e o Laboratório Central (Lacen) certifica microscopistas que diagnosticam a doença, comunicando-a imediatamente o Ministério da Saúde.

Para Nakaoka, a coleta perfeita é um desafio que evita a quebra do ciclo de transmissão. “Sintomas clássicos significam perda de certificação de casos. Então, se a pessoa tiver febre e dor de cabeça, deverá ser bem diagnosticada”.

PREVENÇÃO

Doença com transmissão vetorial, a malária requer borrifação intradomiciliar. A médica Arlete Baldez apela: “As famílias devem permiti-la. Atualmente, o programa usa um novo produto eficiente como inseticida, que protege o morador por até quatro meses”.

A Agevisa também recomenda o uso do mosquiteiro impregnado, que atualmente oferece proteção individual e coletiva a dez municípios. “O estado segue prestando assessoria e constante monitoramento para detectar situações de risco; se necessário, faz visitas in loco. Também estão assegurados medicamentos e bombas aspersoras de inseticida. No próximo dia 27 será entregue o último lote com 23 bombas, atendendo a 13 municípios”, informa diretora.

O tratamento da malária é feito com a administração de cloroquina por três dias e primaquina por sete ou 14 dias. Ambos têm dose única diária e devem ser ingeridos com refeição, para evitar dor de estômago. A dose do medicamento varia conforme a idade e o peso do indivíduo, e os casos mais graves necessitam de internação hospitalar.


Texto: Montezuma Cruz
Fotos: Ademilson Knigthz