Maria Clara - “Menina Bonita”

Aos 18 anos, cantora e compositora lança CD de estreia apostando em músicas autorais e no novo pop sertanejo.

Publicada em 05/11/2012 às 08:49:00

Às margens do rio Madeira, um dos principais afluentes do rio Amazonas, a menina Maria Clara costumava tocar seu violão nos finais de tarde e nas noites de Lua cheia. Numa terra povoada por lendas e mistérios, não é de se espantar que, numa dessas serenatas ao luar, sua música atraísse a atenção de um boto. O mamífero que habita as águas dos rios do Norte, e é temido pelos pais por se transformar num belo homem e seduzir as moças quando a Lua atinge sua plenitude, emergiu das águas encantado pela voz de Maria Clara. Mas ele só queria antecipar o futuro da bela morena: ela iria para um outro rio, mais precisamente o Rio de Janeiro, e gravaria um disco. Como os nortistas sabem, profecia de boto não se discute. E lá foi ela correndo para casa, arrumar as malas e, com a mãe, Silvana, e o violão sempre do lado, partir para a Cidade Maravilhosa.

A história contada aqui poderia muito bem ser mais uma entre tantas lendas que fazem parte da fantasia em torno da misteriosa Amazônia. Mas o recado visionário do boto profeta ganhou vida e chega agora às lojas com o lançamento do CD“Menina Bonita”, pela gravadora Universal Music. O título faz jus à moça de apenas 18 anos, mas não seria exagero acrescentar outros adjetivos, como talentosa e carismática. A menina bonita que veio do Norte gravou 13 músicas, sendo quatro delas composições próprias, outras três feitas em parceria e uma versão assinada por ela. O repertório, é bom frisar, é totalmente inédito, uma ousadia para uma artista estreante na indústria fonográfica.

Apesar do estilo mulherão, tempos atrás Maria Clara só queria mesmo era dançar na série de DVDs Xuxa Só para Baixinhos. De tanto ver os vídeos, a menina agitada caprichou nas poses e fez a mãe produzir um ensaio fotográfico para mandar para a produção, em busca de um espaço no balé infantil da rainha loura. Depois, veio a fase Sandy & Júnior. Ouvia a dupla de irmãos o dia inteiro. Até que sentiu o desejo de aprender a tocar violão. Matriculou-se na escola Sol Maior, lá mesmo em sua Porto Velho natal. Em menos de um mês de aulas, já conseguia tirar algumas músicas de ouvido. Deixou o curso, mas seguiu dedilhando em casa, desta vez acompanhando os discos da americana Taylor Swift. A menina danada que, sempre que podia, estava falando alto, cantando ou dançando – em outras palavras, querendo chamar a atenção -, àquela altura já sabia o queria: viver de, e para a música.

A primeira composição surgiu ainda na infância. Maria Clara tinha apenas oito anos quando fez a primeira música. Dona Silvana guarda até hoje o papel em que a letra foi escrita. Na época do Natal, a menina esperta preparava canções para que toda a família pudesse participar da celebração. Criava versos para cada integrante. E ninguém podia errar. Cada um tinha que ter sua parte decorada na ponta da língua. Imaginem agora com o lançamento do disco? Maria Clara não vai achar nada ruim quando todo mundo conhecer suas músicas de cor e salteado. “Sinto que a composição me ajuda a entender o que sinto e o que quero. E quando a gente entende a situação, fica mais fácil resolver as coisas”, diz a menina compositora.

O CD “Menina Bonita” abre com a versão de Maria Clara para Mi Miña Bonita, de Miguel Ignacio Mendonza Donatti, Jesus Alberto Miranda Perez e Richard Alexandre Pena. No refrão, ela avisa: “Aqui tem amor, aqui tem amor”. E, assim, a nova musa do pop sertanejo diz a que veio. “Sou nova nesse mundo antigo”, diz a letra de Transformação, parceria de Maria Clara e Carlos Colla. Nova, mas com a segurança de uma jovem veterana. Autor de vários sucessos gravados pelo rei Roberto Carlos, Colla foi a primeira pessoa a acreditar em seu trabalho. E, junto a Edison Coelho, outro produtor tarimbado, ajudou a dar forma às ideias dessa menina sonhadora.

O disco tem surpresas deliciosas como o sertanejo com pitadas de reggae Tão a Sério, dos hitmakers pernambucanos Michael Sullivan e Dudu Falcão. “Ninguém me diz pra onde eu vou”, afirma a cantora. Sullivan também divide com Carlos Colla os créditos de Já Era. “Olha só agora, qual de nós que chora / O que aqui se faz, aqui se paga e não demora”, brada a moça.Já no single Violetas, de Valdison, Jairo Goes e Cáritas Miguel,provam que, mesmo com a pouca idade, ela também sabe entoar versos doídos, como “Não aprendi a ficar sem você / Devolva o Sol que você levou”.

Mas são nas composições que assina sozinha que Maria Clara dá pistas sobre como andam seus sentimentos. “Será que o meu coração não vai parar de me pedir você?”, é a pergunta que ela própria se faz em Hoje Você Me Disse. Na sua Lista de Objetivos, ela revela: “Tenho você na minha mente por tanto tempo que eu já nem sei / Você tá na minha lista de objetivos que eu ainda não conquistei”. É a menina bonita se declarando para o menino do olhar castanho-escuro. Acorda, rapaz! Em Se Você Não Ligar, é a vez dela cantar: “Meu bem, nem adianta mais ligar / Já esperei tempo demais”.

Na divertida Vinte e Três, Maria Clara divide a parceria não só com Carlos Colla, mas também com sua mãe, Silvana. “Achava que era o cara, mas perdeu a vez / Cê vai de prato feito, eu vou de japonês”, debocha, cheia de graça. Mas em Além do Sol, faixa assinada por Leandro Barros e Paulinho Rezende, a letra não esconde: “Dona do mundo, me sinto assim se estou com você / Um só segundo é um milênio sem você”.

Entre encontros e desencontros típicos de uma menina cheia de sonhos, com toda uma estrada para trilhar, Maria Clara manda o seu recado: “Não quero ser alguém a mais na sua história”. Com tanto talento assim, vai ser difícil ela ser apenas alguém a mais. Que venham agora o clipe, o show, enfim, o futuro que o sábio boto previu, às margens do rio Madeira.

Por Cleodon Coelho