Médico reivindica condições de trabalho, é ofendido e expulso da sala de diretor

Caso foi parar na delegacia, com o registro de uma ocorrência por agressão verbal praticada pelo diretor do HB contra médico-cirurgião.

Publicada em 11/12/2011 às 15:48:00

Da reportagem do TUDORONDONIA


Porto Velho, Rondônia - O médico-cirurgião Marcelo Ferrari, do Hospital de Base Ary Pinheiro, registrou boletim de ocorrência policial contra seu colega de profissão Francisco das Chagas Jean Bessa de Holanda Medeiros, o Jean Negreiros, diretor geral do HB, que quase o agride fisicamente e o ofendeu verbalmente.

Jean ainda expulsou Marcelo Ferrari do gabinete da direção do HB, após tratá-lo rispidamente, conforme gravações de áudio, quando este tentava protocolar um documento no qual reivindica melhores condições de trabalho, estrutura, materiais e instrumentais para que os cirurgiões pediátricos possam continuar operando sem expor as crianças a maiores riscos.

O médico tinha retornado ao HB, após seu plantão, por insistência de Jean Negreiros, que ligou várias vezes para a casa de Ferrari solicitando sua presença de volta ao hospital.Há seis meses Marcelo Ferrari já tinha entregado o mesmo documento a Jean Negreiros, que disse tê-lo perdido.


Preocupado com o estado deplorável em que se encontra a Clínica de Cirurgia Pediátrica do HB, Marcelo Ferrari reiterou as reivindicações em novo documento, assinado não apenas por eles, mas por todos os outros quatro cirurgiões que integram a equipe daquela clínica, mas, ao tentar protocolizar  novamente o documento, foi surpreendido pela agressividade do diretor.

No documento, Ferrari mostra a impossibilidade de a equipe continuar com as chamadas cirurgias eletivas, aquelas que não são de urgência-emergência, devido a absoluta falta de condições do setor, inclusive com risco de infecção para as crianças.

“O Centro Cirúrgico do HBAP hoje é um foco de infecção e um risco para qualquer paciente que ali adentre e se submeta a um procedimento cirúrgico, por mais simples que seja, quanto mais, para um RN ou uma criança maior”, alerta o documento subscrito por Ferrari e seus colegas médicos e que tanto irritou o diretor.

Num trecho da gravação, é possível ouvir os gritos e ameaças de Jean contra Marcelo Ferrari, ao mesmo tempo em que parte para cima do cirurgião, como se quisesse agredi-lo fisicamente. Em seguida, Jean expulsa Ferrari do gabinete aos gritos.
O caso será investigado pelos policiais do 2º DP da capital.

Leia a íntegra do documento que os cirurgiões pediátricos do HB redigiram e que o diretor se recusou a receber, após ter perdido um outro semelhante que lhe foi entregue há seis meses:

Porto Velho (RO) 05 de Dezembro de 2011


Ilmo. Sr.
Dr. Francisco das Chagas Jean Bessa de Holanda Medeiros
DD Diretor do Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro
NESTA

Sr. Diretor,
Após o inicio do atual governo e da sua posse, estivemos reunidos com V.Sa. e lhe participamos nossa preocupação com o estado atual das Clinicas Cirúrgicas do Hospital de Base, em particular a Cirurgia Pediátrica. Informamos-lhe do estado deplorável do instrumental infantil, da falta de um número substancial de materiais que deveríamos estar usando no nosso dia a dia no Bloco Cirúrgico, de uma sala especifica onde pudéssemos inclusive guardar tal instrumental, possibilitando assim um melhor uso do mesmo e um tempo mais prolongado da vida útil deste material, um centro cirúrgico digno e minimamente aceitável para os padrões da medicina moderna e dentro das regras de asseio e de controle da infecção hospitalar.
Senhor Diretor, o Centro Cirúrgico do HBAP hoje é um foco de infecção e um risco para qualquer paciente que ali adentre e se submeta a um procedimento cirúrgico, por mais simples que seja, quanto mais, para um RN ou uma criança maior.
Desejamos que haja uma melhor organização a nível de enfermaria na Ped. I (enfermarias da CIPE), facilitando o controle de vagas, um melhor aproveitamento dos leitos e evitando a disseminação de infecção hospitalar entre pacientes com patologias ditas limpas, contaminadas ou infectadas, etc.
Na ocasião entregamos a V.Sa. um Relatório onde versávamos sobre estes problemas e reivindicávamos a aquisição de tal instrumental e materiais.
Passados mais de seis meses, não houve por parte de VS qualquer posicionamento quanto a questão em si, além de assistirmos a cada dia, uma piora dos serviços no HBAP, em particular na Cirurgia Pediátrica. Hoje não temos a maioria dos fios cirúrgicos do nosso dia a dia, catéteres torácicos apropriados para o paciente infantil (drenos), colchões térmicos para estabilizar a temperatura dos infantes e recém-nascidos, bombas de infusão durante o ato cirúrgico, lupas para micro-cirurgias, etc., além de nos encontrarmos operando com um instrumental velho e obsoleto.

Por isso decidimos em conjunto e de maneira unânime:
• Suspender todas as Cirurgias Eletivas até a aquisição de tal material e a completa contemplação das nossas reivindicações;
• Encaminhar estes pacientes para TFD, tendo como justificativa A FALTA DE CONDICOES MINIMAS PARA REALIZAR O PROCEDIMENTO NESTE NOSOCOMIO.


Informamos que oficio com igual teor está sendo encaminhado e protocolado no CREMERO, MPE, SIMERO e na Secretaria Estadual de Saúde.


Atenciosamente,