Não se brinca com o patrimônio público

Valdemir Caldas

Publicada em 10 de fevereiro de 2016 às 11:24:00

O secretário de administração de Porto Velho, Mário Medeiros, veio a público dizer que estava sendo retaliado por uma empresa impedida de prestar serviços à prefeitura. Num rasgo de moralismo, jamais visto por essas bandas, sobretudo depois das operações Dominó, Termópilas e Apocalipse, ele afirmou que “não trocava 1% do seu caráter por 100% do caráter daqueles que o denunciaram.”

O enredo é mais ou menos assim: uma empresa queria ocupar o lugar da outra. Frustrada, por motivos que só Medeiros os conhece, resolveu bater à porta do Ministério Público de Rondônia e denunciar o secretário por suposta irregularidade contratual.

Mário Medeiros é amigo e pessoa de confiança do prefeito Mauro Nazif (PSB). Foi um dos principais coordenadores de sua campanha à prefeitura da capital.

Atualmente, ele responde pela secretaria municipal de administração (SEMAD), onde funciona a CPL, o órgão encarregado de preparar as licitações destinadas à contratação de prestadores de serviços.

Na condição de responsável pela condução dos negócios do povo, o secretário tem a obrigação de apontar quem seriam as pessoas eventualmente interessadas em avançar contra o patrimônio da população, na marra, até para que esta não se sinta no direito de considerar que debaixo no angu haveria caroço.

Além disso, ensina o dito popular, nada temer quem nada deve. Se o secretário tem consciência de seus atos, de que em nenhum momento favoreceu uma empresa, em detrimento da concorrência, não há por que exasperar-se, pois, mais ou cedo ou mais tarde, a verdade prevalecerá.

Medeiros errou ao não botar a boca no mundo antes, dando, inclusive, nomes aos bois, deixando para fazê-lo, agora, depois que o assunto chegou ao MPE/RO, uma vez que se não brinca com o patrimônio público. Este, ao contrário do que se pensa, não pertence a um determinado indivíduo ou entidade, mas a todos.

O brasileiro, de modo geral, e o rondoniense, de modo particular, vem tendo testada a sua capacidade de indignação diante de fatos nebulosos e exige das autoridades punição aos que a merecem. É preciso reverter o placar do jogo. E o momento não poderia ser mais oportuno. A cidadania aos poucos vem despertando-se e reaprendendo a defender os seus direitos, aos gritos e protestos, nas praças e pelas ruas deste país a fora.