O cinismo da elite política brasileira e a incompetência do governo Dilma podem mergulhar o País no caos

Professor Edilson Lôbo

Publicada em 04 de December de 2015 às 12:03:00

Do ponto de vista político, o Brasil é um pardieiro só. Com raríssimas exceções, encontramos alguma autoridade de destaque no cenário nacional, que seja merecedora da nossa credibilidade. Do executivo ao legislativo, passando pelo judiciário, vivemos numa teia complexa de articulações espúrias, em que todos esses poderes estão em algum nível comprometidos, porquanto contaminados.

As operações encetadas em várias frentes desde o governo Lula, com centenas de ações, seguidas operações investigativas contra o chamado “crime do colarinho branco”, utilizando-se da prerrogativa da delação premiada, tem desnudado o mar de lama que sempre fez parte do cenário brasileiro, tanto na vida pública quanto  privada.

A questão de fundo que se coloca, é o quanto a alternância de poder, para um rearranjo de forças, pode levar as pessoas a ações que beira a sandice.

Temos razões para querermos Dilma fora da Presidência? Óbvio que razões não nos faltam. Porem, sou dos que pensam que as coisas não acontecem por um simples ato de vontade, do capricho das pessoas, ou para cumprir apenas interesses que satisfazem os que foram de alguma forma contrariados.

A grande maioria das pessoas, não têm a menor noção do que representa um impeachment, e os seus desdobramentos no transcorrer desse processo, ainda mais, considerando o estado de terra arrasada porque passa o País?

Nestas circunstâncias, me alio aos que defendem que para além dessas disputas que estão colocadas pela alternância de poder, temos que pensar o que pode ser melhor para o País. A retaliação de Cunha, além de cínica pelos argumentos apresentados, carece, se comparada com a sua situação em que existem fartas provas documentais, contra Dilma, alega-se tão somente práticas que, em que pese do ponto de vista ético condenáveis, mas corriqueiras no cotidiano do exercício prático da história da administração pública brasileira. Que práticas seriam essas? A mentira e os arranjos contábeis para contornar situações de caixa de um dado exercício financeiro. Me digam com toda sinceridade, qual político não mente quando das suas campanhas eleitorais? Vamos fazer uma retrospectiva dos governos republicanos passados com as suas respectivas plataformas, e as efetivas tomadas de decisões e tirem as suas próprias conclusões. Devemos concordar com isso? É claro que não, mas então sejamos razoáveis quanto a aplicação das sanções, no mínimo para sermos justos.

Para não irmos muito longe, vamos nos circunscrever no âmbito dos últimos governos estaduais eleitos, incluindo o do nosso Estado de Rondônia e veremos o que vamos encontrar em relação as suas mentiras. Ou esse argumento é muito fraco, ou vamos pedir a derrubada de todos eles, ou seremos todos cínicos.

Na mesma linha de raciocínio, as argumentações procedem para as chamadas pedaladas fiscais. Desde a sua implantação, quem efetivamente cumpriu à risca as suas determinações, inclusive o governo tucano cujos parlamentares atuais, são os que mais vociferam contra o chamado crime de responsabilidade fiscal.

É uma situação que não está pacificada, portanto, por si só mereceria maior cautela, na medida em que mesmo no âmbito jurídico, os mais renomados juristas,  têm profundas divergências quanto a esta situação.

Vamos ser bastante honestos, contra Dilma, do ponto de vista de um real crime cometido que justifique o seu impeachment, a rigor, não pesa nada contra ela. Esta pode ser colocada em xeque, pela sua incompetência administrativa, sua fragilidade no comando da Nação por ceder a todo tipo de chantagem para garantir a “tal governabilidade”, a sua ineficiência em articular minimamente um conjunto de ações que reverta o quadro de extrema gravidade pela qual estamos passando e tantas outras razões que queiram atribuir ao seu governo. Na falta de um fato concreto, apelou-se para um expediente meramente político, aproveitando-se o grande descontentamento da população e a cobertura parcial e engajada da mídia corporativa, que potencializa  todo e qualquer assunto que envolva o governo petista.

Coadjuvando a tudo isso, não podemos omitir, muito embora poucos admitam, temos um processo claro de ideologização que está colocado nessas disputas, bem como a questão da luta de classe. Coloquemos tudo isso no liquidificador, e temos as reais causas para entornar o caldo quente dos problemas que nos afligem na atual conjuntura.

O mais grave, é que a atitude revanchista de Cunha, por mais que ele queira negar, pode levar o País ainda mais para o precipício. O processo de impeachment é demorado, para chegarmos a sua finalização é preciso um sem números de ritos e que exige votação com coro qualificado para adquirir legitimidade. Ainda que o governo esteja em frangalhos, é pouco provável que o Congresso, de fácil manipulação e sensível barganha, aprove a deposição da Presidente Dilma.

Ao fim e ao cabo, vamos assistir um grande circo montado, em que os protagonistas da arena, estarão mais preocupados em defender os seus mesquinhos interesses. Certamente farão juras eternas de que tudo isso é feito em benefício da população. Ingenuamente essa massa eufórica, por finalmente ver a sua grande inimiga indo para o calvário, terá orgasmos de regozijo, sem saber como sempre, estar apenas legitimando uma luta política, que não serve ao seu interesse, mas escamoteia a sanha dos blocos de poder, que nas suas disputas inter-burguesas, fazem os seus arranjos e ajustes para o realinhamento da hegemonia futura.