O dever de investigar

Valdemir Caldas

Publicada em 31 de August de 2015 às 16:28:00

Mais que uma imposição legal, a apuração, pela Assembleia Legislativa de Rondônia, da denúncia de que o governo do estado teria comprado um terreno por preço muito acima do praticado no mercado, para acomodar famílias desabrigadas pelas águas do rio Madeira, é uma exigência do próprio momento que estamos atravessando.

O problema é que ninguém acredita que a ALE/RO levará a investigação até o final. Há pouco, deputados mandaram para o espaço, sem nenhuma explicação convincente, uma CPI, criada para apurar eventuais irregularidades na Secretaria de Estado da Fazenda. Prevaleceu, mais uma vez, o dito pelo não dito. E a população ficou chupando o dedo, enganada que foi por aqueles que teimam em achincalhar a dignidade do cargo e nutrir pleno desprezo pelos valores morais.

Não é à toa o elevado grau de descrédito de que desfruta a classe política junto à opinião pública. Quando se deveria deles esperar procedimento exemplar, o que se verifica são episódios que envergonham os próprios eleitores e comprometem o amadurecimento político. Conscientes de seus parcos merecimentos, não hesitam em usar de expedientes menores, desde que isso lhes acene com alguma recompensa, na maioria dos casos, cargos comissionados e funções de confiança, para acomodarem parentes, aderentes e cabos eleitorais.

No fundo, ninguém parece interessado em investigar coisa nenhuma. Na hora, muitos deitam falação, exibem autoridade e competência. Mas, depois, mudam da água para o vinho. Emudecem, fechando-se em casulo. E aí, quando a vaca já está com lama até o pescoço, danam-se a trocar impróprios uns com os outros, querendo passar à população a impressão de cidadãos devotados às causas sociais. Só que o povo não mais acredita nessa encenação chula.

Uma das atribuições do poder legislativo é fiscalizar os atos do executivo, mas a ALE/RO parece que renunciou a essa tarefa. Todo mundo quer investigar, mas só da boca para fora.