Para Hermínio, governo tem que dar conta de sumiço de bebê

Há vários pontos desencontrados, que não sobrevivem a uma confrontação mais simples com os fatos.

Publicada em 13 de June de 2014 às 11:03:00

Valbran Junior

As circunstâncias sombrias que envolvem o suposto sumiço do bebê Nicolas Naitz Silva, desaparecido no dia 23 de maio numa sucessão de procedimentos considerados fora dos padrões normais de uma rotina médica-hospitalar, serão investigadas também pela Assembleia Legislativa, por meio de uma comissão que será formada a partir da sessão especial convocada para o dia 24, para discutir o drama da jovem mãe, Marciele Naitz, de 17 anos e de sua mãe, Irenilda Naitz, que desde o desaparecimento do bebê passam pelo pior drama de suas vidas.

Na manhã de quarta-feira (11), Marciele e sua mãe, Irenilda Naitz, foram recebidas pelo presidente da Assembleia Legislativa, Hermínio Coelho, a quem relataram todo o episódio, envolto em mistérios que suscitam as hipóteses mais escabrosas sobre fatos semelhantes relacionados ao desaparecimento de bebês.

O pequeno Nicolas Naitz nasceu no dia 22 de maio9, às 9h20, com 2 quilos e 800 gramas, de parto normal, na unidade de saúde de Candeias do Jamari, apresentando boas condições de saúde, segundo atestou à mãe e à avó, o médico responsável pelo parto. Cerca de nove horas depois, no entanto, o recém-nascido estaria morto, depois de ter passado pelos hospitais São Cosme e Damião e Regina Pacis. Nesse ínterim, observou-se uma sequência de informações desencontradas, que culminou com o drama do desaparecimento do bebê – ou do corpo.

Segundo a avó da criança, logo após o parto, mãe e filho foram trazidos à Porto Velho, onde Marciele foi internada no Hospital de Base para recuperação e o menino levado para o Hospital Infantil São Cosme Damião, embora nenhum problema de saúde tenha sido relatado com relação a nenhum dos dois. Algum tempo depois, o diretor-geral do Hospital de Base, Nilson Paniágua, que acumula a mesma função no Hospital Infantil São Cosme e Damião e tem participação societária no hospital Regina Pacis, determinou a transferência do pequeno Nicolas para o hospital do qual é sócio. Até aí, afirma Irenilda Naitz, não recebeu encaminhamento nem explicação sobre a necessidade da internação.

MORTE SEM CORPO No final da tarde, a avó foi chamada por uma enfermeira, que a informou a respeito da suposta morte do netinho, mas afirma que em momento algum foi autorizada a ver o corpo. Depois disso, ao invés de ter o corpo liberado para as exéquias familiares e sepultamento, a avó foi informada que seria levado para o HB, de onde seria liberado. Ela seguiu, então, no mesmo carro, mas em nenhum momento viu o bebê. Segundo ela, a enfermeira carregava um “pacote” embrulhado lençol do HB, que ela não tem condições de afirmar se ali havia um corpo.

No HB, mais mistério. Foi orientada a seguir para a enfermaria, onde a filha estava internada, enquanto que a enfermeira com o “pacote” tomou outro rumo. A partir daí, nem o tal pacote foi mais visto. Mãe e filha foram informadas que o corpo precisaria passar a noite no hospital e seria liberado no outro dia. No dia seguinte, portanto, quando um agente funerário foi buscar o corpo para providenciar o velório, a grande surpresa: no embrulho que foi entregue, só havia panos e nada mais. Começava aí outro drama, que o deputado Hermínio Coelho quer que a Assembleia Legislativa ajude a esclarecer.

DESENCONTROS Há vários pontos desencontrados, que não sobrevivem a uma confrontação mais simples com os fatos, a começar do próprio parto. a) Nicolas nasceu num posto de saúde em Candeias do Jamari, cujo momento foi registrado em diversas fotografias nas quais aparecem o médico e outros profissionais em boas risadas, aparentemente comemorando o êxito do parto. As imagens mostram uma criança aparentemente saudável; b) Na declaração de óbito, a médica que o assinou indica que Marciele teve o parto numa ambulância; c) depois de afirmar à mãe e à avó que a criança nasceu saudável e que poria em risco seu próprio registro profissional no Cremetro, se tivesse que dizer o contrário, o médico recuou e disse que a criança tinha nascido com problemas cardíacos, numa outra contradição, vez que d) no laudo, a médica aponta como causa da morte sepse neonatal e asfixia; a sepse neonatal, segundo a literatura médica, é uma condição médica grave caracterizada por estado inflamatório de todo o organismo e presença de infecção, geralmente tratada em UTI com fluidos intravenosos e antibióticos. Ocorre que antes de ser tirada do hospital São Cosme e Damião, segundo a avó, a criança estava estabilizada, numa cama de hospital comum, sem medicações.

PROVIDÊNCIAS Para a sessão especial foram convocados o secretário estadual da Saúde, Williames Pimentel; o diretor do São Cosme e Damião e Sócio da Maternidade Regina Pacis, Nilson Paniágua e o diretor-geral da Polícia Civil, Pedro Mancebo. Também foram convidados o procurador-geral de Justiça do Ministério Público, Héverton Aguiar, o Conselho Tutelar e o agente funerário que foi buscar o corpo e só encontrou lençóis. Enquanto isso, Marciele Naitz, acadêmica do primeiro período de administração que cursa em Ariquemes, estão morando “de favor”, como disseram, na casa de parentes em Porto Velho, de onde não pretendem sair, quanto não tiverem informações que possam desvendar o mistério.