RONDÔNIA: FAMÍLIA DE ADVOGADO ASSASSINADO POR PISTOLEIROS LUTA HÁ 26 ANOS POR JUSTIÇA; VIÚVA E ÓRFÃOS QUEREM SER INDENIZADOS POR MANDANTES

Decorridos 26 anos de um dos crimes de maior repercussão na história de Rondônia, a família do advogado Agenor Martins de Carvalho tenta obter na Justiça indenização dos empresários Carlos Figueiredo

Publicada em 00/00/0000 às 06:44:00

Decorridos 26 anos de um dos crimes de maior repercussão na história de Rondônia, a família do advogado Agenor Martins de Carvalho tenta obter na Justiça indenização dos empresários Carlos Figueiredo e José Milton Rios, apontados como mandantes do assassinato de Agenor em novembro de 1980, em Porto Velho.

A viúva Dalal Skaff de Carvalho e os órfãos Rodrigo Otávio Skaf de Carvalho, Valdemir Skaf de
Carvalho e Fabricio Skaf de Carvalho, por intermédio do advogado João Lucena Leal, entraram na Justiça com pedido de reparação de danos contra Carlos Figueiredo e José Milton Rios. Os advogados dos acusados são, respectivamente, Marcus Vinicius Prudente e Alexandre Cardoso da Fonseca. A juíza substituta Keila Alessandra Roeder designou audiência para o dia 3 de março deste ano.

Ligado ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e ao líder do partido no Território, Jerônimo Santana, que viria a ser o primeiro governador eleito do Estado, Agenor foi morto por pistoleiros em casa, na rua Júlio de Castilhos com Duque de Caxias, região central da capital, onde depois viria a ser a sede do Partido dos Trabalhadores (PT).

Carlos Figueiredo, pai da atual vice-prefeita de Porto Velho, Cláudia Carvalho, era proprietário do Floresta Hotel, onde hoje funciona o Tribunal Regional do Trabalho da 14ª Região; José Milton Rios, além de latifundiário urbano, é dono de fazenda de gado na região de Presidente Médici.

Os pistoleiros foram contratados em Ji-paraná (antiga Vila Rondônia) para matar o advogado, pois este defendia famílias de pequenos lavradores e posseiros, tanto na zona rural quanto urbana. A atuação do advogado contrariava os latifundiários, que, na época, disputavam com posseiros  extensas áreas de terra onde hoje é o bairro  Nova Porto Velho.

AS CAUSAS DO CRIME
Em 1979 houve a ocupação da área que se situa entre as Avenidas 7 de Setembro e Rio de Janeiro, além da avenida Rio Madeira. Houve reação por parte de quem tinha carta de aforamento da área, como Chico da Coringa e Carlos Figueiredo. Tiveram cobertura por parte do então secretário de Obras da Prefeitura, que enviou tratores para derrubar os barracos com ajuda da polícia.

Mais de 950 famílias ficaram ao relento. Era um dia de chuva. Os padres Combonianos e as irmãs Franciscanas estiveram presentes, testemunhando a derrubada das palhoças. O assunto foi levado ao conhecimento de Dom João Batista Costa - Bispo de Porto Velho – que, após visitar o local, orientou a contratação de um advogado para defender a causa.

A causa foi confiada a Agenor Martins de Carvalho, que foi a Brasília e lá deu entrada no processo, e no Supremo Tribunal Federal conseguiu uma esmagadora sentença de 7 x 0, mandando reintegrar os ocupantes. A sentença não agradou os que se diziam donos da área, que acabaram por decidir contratar pistoleiros para assassinar o advogado.

 Antes desse episódio os advogados das partes apresentaram uma solução para o problema, que foi aceita. A Prefeitura reconheceria o lado direito da  avenida  Amazonas como dos posseiros e o lado esquerdo para o empresário Chico da Coringa. A prefeitura preparou toda a documentação e os religiosos fizeram o trabalho de catalogação das 950 famílias e entregaram a cada uma o documento definitivo do lote de terras expedido pela Prefeitura.

 Foi solicitada uma área para a Igreja. Em assembléia da iniciante Associação do Bairro Nova Porto Velho, foi declarado que a "única Instituição que nos amparou foi a igreja", então o Padre Mário Fioravanti completou: "Então chamaremos esta nova comunidade Nossa Senhora do Amparo".

A área destinada foi de 100m de frente por 250m de fundos, tendo como frente a rua Amazonas, entre as ruas 09 e 10. Foi construída uma capela em madeira que durou até 1989, quando foi iniciada a construção da atual Igreja pelo Padre Ludovico Bonomi, Pároco de Nossa Senhora das Graças.

Assim surgiu a Comunidade Nossa Senhora do Amparo, elevada ao título de Paróquia em 31 de julho de 1991, pelo então Arcebispo de Porto Velho,  Dom José Martins da Silva. Quem deu a primeira assistência espiritual foram os padres combonianos da Paróquia Nossa Senhora das Graças na pessoa de José Larea e o Diácono José Wacken.

A comunidade que se reunia era bem pequena mas bastante criativa e empenhada até politicamente. O advogado Agenor Martins de Carvalho foi assassinado em 11 de novembro de 1980 e em sua homenagem o bairro e a Associação passaram a ser chamados Agenor Martins de Carvalho. Um jogo de interesse político e descaso dos Padres Combonianos provocou a perda de parte da quadra que era da igreja.