Rondônia: Madeireiros mudam de ramo e apostam na pecuária de leite e piscicultura

A maioria se torna grandes e médios fazendeiros e piscicultores como, por exemplo, os empresários Lacide Bernardina Rigone e Cláudio Conceição.

Publicada em 16 de April de 2014 às 11:34:00

Na região da Grande Jaru, interior de Rondônia, fatores como consciência ecológica e as restrições da legislação ambiental começam a incentivar antigos madeireiros a mudar de ramo. A maioria se torna grandes e médios fazendeiros e piscicultores como, por exemplo, os empresários Lacide Bernardina Rigone e Cláudio Conceição.

PISCICULTURA

O rebanho de gado leiteiro de Rondônia é estimado em 3,8 milhões de cabeças e o de Jaru com 329.020 cabeças coloca o município em 1º lugar no ranking estadual da pecuária de leite, de acordo com as estatísticas de 2013.

O município aparece também em 13º lugar no ranking estadual do gado de corte com 178.430 cabeças, enquanto o rebanho rondoniense é estimado em mais de 8 milhões de cabeças.

Rigone, o primeiro a iniciar a desativação gradual da antiga madeireira que possui na região, se prepara há 4 anos para enfrentar os setores mais lucrativos da pecuária de leite e vem direcionando ainda os seus investimentos para a piscicultura.

Para melhorar o plantel do gado leiteiro e a produtividade do rebanho em duas de suas maiores propriedades, as fazendas “Cafeeira”, no município de Theobroma, e “3 Irmãos” em Vale do Anari, ele adquiriu recentemente em Goiás uma vaca que produz 57 litros por dia.

Com a matriz ele pretende investir na coleta de sêmen animal e utilizar os embriões para inseminação artificial das chamadas “vacas brancas”. Rigone admite, no entanto, que para mudar de ramo de negócio é preciso ter muita cautela, pois sem conhecimento técnico, pasto irrigado – ele possui três hectares em uma de suas propriedades – e bom manejo de matrizes e uso de técnicas de inseminação artificial, não compensa manter no pasto vacas que produzam apenas 5 ou 7 litros de leite. “Isso é muito dispendioso e não dá lucro”.

Nos últimos anos ele comprou 30 vacas, que produzem em média 27 litros de leite diários, e agora investiu na aquisição dessa nova matriz que produz em média 57 litros. Na região, o litro de leite é vendido ao laticínio a R$ 0,70.

Outra boa fonte de renda dessas propriedades é a comercialização de bezerros. A desmama dos bezerros é feita aos seis meses, e, segundo Lacide Rigone enquanto a venda de um bezerro rende entre R$ 850,00 a R$ 900,00, a engorda de um boi no pasto pode demorar até 3 anos. “Na alta, o boi gordo é vendido por cerca de R$ 1.800,00 e, em média, R$ 1.600,00. Por isso a venda dos bezerros é mais lucrativa”.

Piscicultura alternativa
Com a produção diversificada de peixes das espécies tambaqui, pirarucu, pirapitinga e pintado (bagre), chega a comercializar em média 10 toneladas de pescado por mês. A espécie mais consumida na região é o tambaqui, que na venda direta aos supermercados custa entre R$ 3,50 a R$ 4,50 o kg.

O pirarucu, considerado uma das espécies mais nobres da Amazônia, custa R$ 17,00 o kg, mas é menos procurado e os frigoríficos aproveitam apenas 40% da carne.


Cláudio Conceição é apontado junto com Lacide Rigone, como dois dos maiores piscicultores da região. Cláudio é mais um dos madeireiros que mudaram de ramo de negócio e atualmente se dedica às atividades na fazenda “Casa do Cacau” e à produção de peixe para abastecer o frigorífico de sua propriedade.

O governo espera concluir a planta industrial do primeiro frigorífico de peixes com tecnologia de ponta e voltado para a exportação em escala industrial até o final de 2014, e vai custar cerca de R$ 15 milhões e toda uma infraestrutura para geração de 150 empregos diretos e outros 1.500 indiretos.

A previsão é iniciar a produção de pescado em escala industrial nos formatos de fingers, nuggets e hambúrgueres congelados, e de polpas de peixe embaladas em bandejas para abastecimento das grandes redes de supermercados brasileiras e exportação para outros países.

Rodeios incentivam parcerias

Um novo modelo de parcerias vem crescendo na região. Os fazendeiros e piscicultores de médio porte participam e apoiam diretamente os rodeios e as cavalgadas na zona rural da grande Jaru, onde segundo organizadores como David Duarte, 44 anos, “Feião”, se discutem desde parcerias de novos negócios na área de produção e ao incremento dos serviços de transporte prestado pelos taxistas e moto-taxistas.

Eventos como o 1º Rodeio do Clube Campestre, realizado no último dia 6 de abril, movimentam todos os segmentos da economia da região. No período de 5 dias, são realizadas vendas e trocas de matrizes de animais para melhoria da qualidade dos rebanhos, de alevinos para o desenvolvimento da piscicultura em cativeiro, negociação de contratos com redes de supermercados e o incremento do faturamento de setores como salões de beleza e lojas de moda caltrin. “É uma cadeia de negócios e cada edição chega a movimentar em média R$ 500 mil”, disse Duarte.


O rodeio organizado pela Associação do Clube Campestre teve início com a concentração das dezenas de “comitivas” na fazenda Mundo Novo, de propriedade do mato-grossense do sul José Ferreira Lima, 74 anos. A cavalgada percorreu, em seguida, 8 km pela Linha-5 até a sede do Clube Campestre, área urbana de Jaru.

Crianças, jovens e adultos, montando cavalos, mulas e bois adestrados, transformaram a área de concentração e todo o percurso da cavalgada numa verdadeira festa, que reaviva as tradições da música e modo de vida dos moradores sertanejos.

Investimento do governo

Na região de Jaru, o governo vem incentivando a piscicultura com recursos do Ministério da Pesca pelo Programa Água Produtiva via Secretaria do Estado da Agricultura (Seagri) e a Emater-RO. De janeiro a setembro de 2013 cinco propriedades foram atendidas no município com a realização de 412,7 horas de trabalho de cavadeiras hidráulicas e 406 outras de pás-carregadeiras, no total de mais de 240 hectares.

O Programa “Mão Amiga” também recuperou estradas no município de Vale do Anari e regiões de Rio Pardo, Marco Azul e o distrito de Jacinópolis. O distrito de Tarilândia, na região de Jaru, onde predomina a produção de pescado de pequenos produtores foi atendido com os serviços de recuperação de estradas.

A Linha 5, em Jaru, recebeu, recentemente, benfeitorias do governo do Estado em parceria com a prefeitura para manutenção das estradas municipais. Patrulhas mecanizadas do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) continuam percorrendo a região para realizar os serviços de manutenção das vias.

Na região, mora o paranaense nascido na cidade de Moreira Sales, José Rosa de Miranda, 66 anos. É um dos pequenos piscicultores que fala com entusiasmo das ações do governo Confúcio Moura e destaca a importância do trabalho da Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril de Rondônia (Idaron) nas campanhas de vacinação do rebanho, principalmente em regiões como Jaru onde “a pecuária é hoje o esteio da economia”.

José Miranda é um dos pequenos criadores de gado e piscicultor da região. Sua propriedade produz 40 litros de leite por dia, mas ele quer crescer e já admite procurar orientação técnica para buscar financiamento bancário e melhorar a qualidade do plantel leiteiro.

O proprietário da fazenda “Mundo Novo”, José Lima, 74 anos, reclama da burocracia dos bancos para conseguir financiamento. Mora há 40 anos na região e uma vez tentou conseguir o dinheiro, mas o banco somente autorizou depois de um ano. Ele optou pela pecuária de leite, mas a média de produtividade das 30 vacas é abaixo de 7 litros diários.
O lucro é pouco, segundo Lima, pois é obrigatória a vacinação semestral e despesas com sal mineral e da própria fazenda de médio porte.


Texto: Abdoral Cardoso