“Terceiro turno”, por Andrey Cavalcante

Encerrada a apuração dos votos no segundo turno da eleição municipal é preciso estar atento para que os municípios possam conviver com uma realidade que podemos chamar de “terceiro turno” das eleições.

Publicada em 29 de October de 2016 às 09:00:00

Encerrada a apuração dos votos no segundo turno da eleição municipal é preciso estar atento para que os municípios possam conviver com uma realidade que podemos chamar de “terceiro turno” das eleições. Nele com certeza não estarão presentes as paixões um tanto exacerbadas registradas em Porto Velho nessa reta final de uma campanha das mais acirradas da nossa história recente. O que estará em jogo, no entanto, é o futuro de nossa capital e é de extrema e salutar importância que os candidatos estejam preparados para conviver com urbanidade, para benefício da população como um todo. Vencedores e vencidos são grupos de pessoas ilustres e representativas em nossa sociedade e poderão influenciar significativamente, para o bem ou para o mal, o desenvolvimento de planos e projetos apresentados durante a campanha. E a cidade espera que todo o poder de convencimento utilizado em cada campanha seja direcionado, não como adversários, mas como aliados na busca de melhores condições de vida urbana, especialmente nesse momento de crise econômica sem precedentes que afeta todo o país.

 

É imperioso salientar o que a OAB preconizou lá atrás, no lançamento da campanha em favor da ética na política e do combate ao caixa 2. Foi uma verdadeira convocação dirigida à população na primeira eleição realizada após a proibição das doações empresariais. A atuação da Ordem foi decisiva para decretar o fim das campanhas milionárias e do império da corrupção. Essa eleição significou um verdadeiro “marco zero” a partir do qual o destino do município deixou de ser negociado antes mesmo do candidato conquistar o credenciamento junto à população. Mas a campanha da OAB não termina com a promulgação dos resultados eleitorais. A importância do comportamento ético, urbano e desassombrado de vencedores e vencidos será tanto maior agora, desde o início desse terceiro turno, que se estenderá por quatro anos. Disso depende o futuro de nossa capital e acreditamos – longe de ser otimista como o professor Pangloss, até porque a teoria de Leibniz (Gottfried Wilhelm) pondera que “o otimista afirma que vivemos no melhor dos mundos e o pessimista tem medo de que isso seja verdade” – ser plenamente possível. Até porque a campanha confronta adversários políticos, não necessariamente inimigos. Podemos não construir o melhor dos mundos, mas com certeza podemos caminhar na direção correta.

 

A propósito da campanha de combate encetada pela advocacia nacional, foram consolidadas na última semana as denúncias formuladas através do aplicativo desenvolvido pela Ordem para monitorar suspeitas de Caixa 2 nas eleições. No total, 723 manifestações foram enviadas à ouvidoria, 215 delas acompanhadas de mídias anexadas. Do total, 496 manifestações (68,18%) passaram pela primeira triagem da Ouvidoria, posto que identificados elementos mínimos para o prosseguimento das denúncias. “Conseguimos barrar o financiamento empresarial em partidos e candidatos, forçando as campanhas a serem menos midiáticas e mais propositivas. Foi de grande contribuição. Graças ao aplicativo, transformamos nossos cidadãos em fiscais eleitorais, aumentando o engajamento e dificultando ainda mais o trabalho daqueles que ainda pretendem deturpar a democracia. Voto não tem preço, tem conseqüência. Precisamos cada vez mais do envolvimento da sociedade brasileira e de todas as nossas instituições para assegurar eleições limpas em que prevaleça o debate de ideias e não a pirotecnia patrocinada com dinheiro ilícito”, disse o presidente nacional da OAB, Claudio Lamachia.

 

O trabalho, contudo, precisa prosseguir neste domingo, posto que lamentavelmente sempre haverá quem defenda a falsa premissa de que os fins justificam os meios. É preciso denunciá-los, para deixar claro que a população não suporta mais a manipulação eleitoral, cujos resultados invariavelmente conduzem a cidade a um verdadeiro caos. Precisamos, todos juntos, dar prosseguimento e avançar ainda mais nesse esforço pela sanidade moral de nossa terra. Cada cidadão é responsável, já que ninguém duvida que os efeitos nefastos da corrupção atingem a todos, como observamos a todo momento no noticiário. Todos nós seremos severamente prejudicados com a eleição de um candidato desonesto ou incapaz. Como no primeiro turno, a OAB vai manter, em todo o país, comitês para receber denúncias de possíveis casos de caixa dois para ajudar nesse processo de vigilância.

Andrey Cavalcante, presidente da OAB/RO