Tratamento profilático evita sequelas e garante qualidade de vida a portadores de hemofilia

Caracterizada pela falta de produção de um dos 13 fatores de coagulação sanguínea, a hemofilia é uma grave doença hereditária e genética que causa sangramentos e hemorragias constantes.

Publicada em 01 de April de 2015 às 09:23:00

Dar mais visibilidade a uma doença que atinge cerca de 12 mil pessoas no Brasil, ressaltando a importância das discussões em torno dos projetos voltados para a melhoria da qualidade de vida dos portadores, é o objetivo do Dia Mundial da Hemofilia, comemorado em 17 de abril. No Brasil, terceiro país do mundo em número de pessoas com coagulopatias (enfermidades do sangue), a data é marcada pela consolidação da oferta de um tratamento de ponta oferecido aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), utilizando medicamentos distribuídos pela Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás) – estatal vinculada ao Ministério da Saúde.

Caracterizada pela falta de produção de um dos 13 fatores de coagulação sanguínea, a hemofilia é uma grave doença hereditária e genética que causa sangramentos e hemorragias constantes, sendo dividida em dois tipos: A e B. O primeiro deles, presente em aproximadamente 80% dos casos, se dá quando ocorre a falta ou diminuição da produção do fator VIII. Já a hemofilia B é mais rara, diagnosticada pela ausência ou baixa produção do fator IX. Nas duas ocorrências, para proporcionar uma maior qualidade de vida e conter os sangramentos, os pacientes precisam fazer a reposição do fator deficitário.

Para atender a esse público, a Hemobrás disponibiliza atualmente dois tipos de medicamentos: os plasmáticos – fabricados a partir de proteína encontrada em baixíssima quantidade no plasma do sangue humano – e o recombinante, obtido por meio de engenharia genética. O fator VIII recombinante, inclusive, é considerado o que há de mais moderno no mundo para o tratamento da hemofilia tipo A. Por ter uma produção ilimitada, toda feita em laboratório, o medicamento possibilita a oferta do tratamento profilático (preventivo) para o distúrbio, antes praticamente restrito ao atendimento emergencial.

“A profilaxia aplicada regularmente, principalmente durante o período de crescimento, evita sangramentos, previne deformidades, diminui o sofrimento e melhora a qualidade de vida. Esta é uma grande conquista para todos os brasileiros”, explica o presidente da Hemobrás, Romulo Maciel Filho, salientando que com o recombinante será possível atingir 90% dos portadores de hemofilia A. “A exceção serão os que por algum motivo forem intolerantes ao produto. Esses continuarão utilizando o fator VIII plasmático”, afirma.

O jovem João Pedro Dias, de 14 anos, é um exemplo de como o tratamento com o recombinante promove grandes mudanças na vida dos pacientes. “Minha família descobriu que eu tinha hemofilia com 15 dias de nascido. Então minha mãe sempre me proibiu de fazer coisas comuns a todas as crianças, como jogar bola e brincar com meus amigos. Tinha uma vida cheia de ‘nãos’, limitada e chata... Depois que comecei a profilaxia tudo mudou. Hoje posso fazer as atividades que sempre quis, como andar de skate, e sou um adolescente normal. Com certeza é a melhor fase da minha vida”, comemorou.

Em menos de dois anos, foram distribuídos mais de 1,2 milhão de frascos do recombinante para os hemocentros de todo o Brasil. Para poder oferecer o produto, a Hemobrás firmou um contrato de transferência de tecnologia com o laboratório Baxter Internacional. Além da importação do medicamento, o documento prevê o repasse dos conhecimentos técnicos necessários para produzir o Hemo-8r em solo nacional, na fábrica da estatal que está sendo construída no município de Goiana, em Pernambuco. A previsão é que isso ocorra a partir ano de 2020, quando devem ser fabricados os primeiros 200 lotes anuais do medicamento. Esse quantitativo irá triplicar a circulação interna do recombinante, elevando o índice de terapia per capita a um patamar encontrado apenas em países desenvolvidos, como Estados Unidos e Reino Unido.

Para Maciel Filho, é de fundamental importância a nacionalização do medicamento. “Ao concluirmos o processo de incorporação tecnológica, seremos o 4º país do mundo a deter o conhecimento da fabricação desse tratamento de alta tecnologia. Dessa forma, não ficaremos reféns das oscilações do mercado internacional, promovendo a soberania do Brasil nessa área”, destacou.

HEMOFILIA – A hemofilia não tem cura. Os sintomas são sangramentos internos, externos e de mucosas, após impactos de qualquer gravidade, inclusive os mais leves, e até mesmo sem razão aparente. Os cortes na pele também levam um tempo maior para estancar.

DIA DA HEMOFILIA - O dia 17 de abril foi escolhido para comemorar o Dia Internacional da Hemofilia por celebrar o nascimento do fundador da Federação Mundial de Hemofilia, Frank Schnabel. Nascido em 1926, portador de hemofilia A grave, Frank Schnabel lutou incansavelmente em prol da melhoria da qualidade de vida das pessoas com hemofilia. Seu legado de dedicação, além do incentivo e estímulo ao desenvolvimento científico, transcendeu as fronteiras do Canadá e atingiu o mundo. Até hoje, a legitimidade desta data está em reforçar a importância de trazer a público as questões relacionadas à hemofilia.

FÁBRICA – A fábrica da Hemobrás, a primeira do Brasil nesta complexidade e a maior da América Latina em seu segmento, será formada por 17 blocos, que ocuparão 48 mil metros quadrados de área construída em um terreno de 25 hectares no Polo Farmacoquímico de Pernambuco, de onde será âncora. A primeira etapa foi inaugurada em dezembro de 2011, contendo o bloco B01, onde funciona a câmara fria a 35°C negativos para recepção, triagem e armazenamento do plasma, matéria-prima dos hemoderivados; o bloco B17, que abriga os geradores de energia; o bloco B14, com um reservatório enterrado com capacidade para 500 mil litros de água; e o B12, prédio destinado à manutenção do parque fabril. As obras dos demais prédios seguem dentro do cronograma e todo o empreendimento deverá ser concluído em 2017.