Um nome no presídio não atalha o fim da impunidade

Edvan Mariano Rosendo foi assassinado pelo Estado há dez anos.

Publicada em 11/01/2013 às 17:11:00

Mara Paraguassu, de Brasília

Morto a serviço do Estado, o agente penitenciário eterniza seu nome na parede de presídio estadual onde o horror humano é revelado com toda intensidade. Horror que se abateu sobre sua família ao perdê-lo de vez numa viagem de escolta a bandido perigoso, dentro de um ônibus da Eucatur, missão aceita porque precisava de um extra para complementar salário de miséria pago aos que arriscam vidas aqui e alhures.


Não é o caso dos que vivem abastados em palácios, a “governar para o povo e para o bem de todos”, no comando do Estado, que nas sociedades democráticas parece se revelar ainda mais dominado pela iniqüidade, porque de modo sutil - apoiado em potente máquina propagandística - finge atuar para a maioria, mas é a uma minoria que serve, tornando-a mais rica e poderosa, distante dos presídios superlotados. Este Estado, para propósitos obscuros, se utiliza de inocentes úteis, como Edvan, disponível e responsável.

Seria preciso Edvan perecer para que Enio Valdir Wesseling, conhecido por Alemão Tangará, ganhasse a liberdade, passaporte que perdura também por uma década tão somente por inapetência do Estado na investigação -será?-, atormentando a família do agente penitenciário com estranha e demorada impunidade do caso?

Diz matéria publicada no portal Rondoniaovivo, do dia 9 último, com o titulo “Assassinato do agente penitenciário Edvan Rosendo completa 10 anos e mandante continua solto”, que o promotor de Justiça Geraldo Henrique Ramos Guimarães alertou autoridades do setor policial sobre falhas na alimentação do sistema (Infoseg) que contem cadastro nacional de foragidos, inexistindo registro dos nomes de Alemão Tangará e Maximiliano Munhoz, outro delinquente de peso, abrigado hoje na penitenciária federal de Porto Velho.

A falta de pessoal - ou qualquer outra justificativa - não pode ser admitida para a falha de alimentação do sistema. A desculpa cheira a sabotagem, a deliberada e até agora pelo visto bem sucedida manobra para que não chegue a bom termo as investigações que levem à prisão de quem puxou o gatilho para Edvan e o mandante, supostamente o escoltado Alemão Tangará, condenado a oito anos de prisão e que responderia a mais quatro processos por homicídio.

É preciso que toda a verdade venha à tona, sobretudo porque foi a mão invisível do Estado quem levou Edvan Mariano Rosendo para uma viagem sem volta. O deslocou a serviço de última hora, sem amparo policial, de forma ilegal, dentro de um ônibus de empresa privada de transporte, prática que segundo o texto do Rondoniaovivo não teria se repetido desde então.
Uma mão invisível ancorada na responsabilidade individualizada dos que prepararam a “missão” dada a Edvan. Para o promotor de Justiça Guimarães alguém “dolosamente ou muito culposamente” o mandou para a morte. Passados dez anos, ninguém responde pelo crime cometido.

O Estado não pode considerar que dar o nome de alguém vitimado por este mesmo Estado a uma obra pública é um atalho para o fim da impunidade, atalho que perdura indevidamente, exibindo a desumanidade do sistema, que condena pessoas dentro e fora dele.

Impune, esse crime tem simbolizado para os agentes penitenciários uma licença disfarçada para que nos explosivos presídios de Rondônia a bandidagem atue para alimentar a descrença e o medo nos que são encarregados de vigiá-la.
Justiça tardia não é justiça, é injustiça qualificada e manifesta, disse Rui Barbosa.