Feriado de quê mesmo?

Por ​Professor Nazareno

Publicada em 24 de janeiro de 2017 às 10:50:00

Professor Nazareno*

 

Fala-se que o Brasil é o país dos feriados e que somos os campeões dos dias sem trabalho. Tolice, descobri que em Porto Velho tem mais feriados do que em qualquer outra cidade do país. O Estado de Rondônia e a sua capital são o paraíso dos dias de descanso. Após as festas de Natal e Ano Novo quase ninguém na cidade "pegou no batente" ainda e comenta-se por aqui à boca larga que trabalho mesmo só depois do Carnaval que é quando começa “pra valer” o ano de 2017. A costumeira preguiça dos rondonienses em levar o trabalho a sério e produzir riquezas com o seu labor desbanca baianos e cariocas, povos costumeiramente chamados por nós de preguiçosos. Somos até mais indolentes do que os nossos irmãos bolivianos de quem costumamos falar mal.

            A rotina de letargia começa nas datas históricas. Acostumados a não fazerem nada, muitas autoridades e homens públicos deste lugar são os primeiros a incentivar a boa vida nas terras de Rondon. O Estado de Rondônia foi criado em 22 de dezembro e instalado no dia 04 de janeiro. Comemora-se o feriado nas duas datas, ora. Houve até sessão solene na Assembleia Legislativa do Estado para deliberar sobre estes feriados sem importância nenhuma. O município de Porto Velho foi criado em 02 de outubro de 1914 e instalado no ano seguinte no dia 24 de janeiro. Acertou quem acha que é feriado nas duas datas. Além do feriado pela instalação do município a data também é dedicada a um tal de São Francisco de Sales. Além da Igreja quem mais conhece este santo?

Depois destes feriados desnecessários existem outros mais. O dia 24 de maio, por exemplo, é dedicado à padroeira do município. Mesmo sem a tradicional festa, os portovelhenses, claro, fazem feriado também neste dia. Para não ficarem para trás, os evangélicos instituíram logicamente a sua data: 18 de junho. Até a atual administração do município começou num feriado. Sim, anteciparam por decreto o quatro de janeiro para o dia dois. Rotina: em Rondônia o feriado é numa data, mas comemora-se em outra e já ouvi falarem em feriado até no dia 13 de setembro, data do extinto Território Federal. Não é engraçado? Engraçado e extremamente prejudicial à economia de qualquer região. O Brasil perde por ano milhões de reais com tantos dias parados.

            Ouve-se falar com frequência que os nordestinos são trabalhadores e os nortistas, incluindo aí os rondonienses, são preguiçosos por excelência. Óbvio que isto é uma generalização grotesca já que quase todos nós brasileiros somos indolentes por natureza. Alguns Estados são mais prósperos do que outros devido às características climáticas e as benesses da mãe natureza. Nunca fomos chegados a uma vida de trabalho árduo, esta é a verdade. Sempre gostamos de uma mamata, uma vida descansada. Os nossos políticos são o espelho do povo e nos quais o povo também se espelha. Eles aumentam seus vencimentos sem aumentar suas horas de trabalho. Inventamos o feriadão e "enforcamos" os dias ditos sem importância entre os feriados.

           De qualquer maneira, ainda há muitas outras datas locais que poderiam ser feriados. Se eu fosse uma autoridade instituía como feriado "o Dia do Boi" e durante o Arraial Flor do Maracujá teríamos uma semana só de feriados, já que os rondonienses são muito trabalhadores e merecem descanso. Trabalho no Governo? Só o estritamente necessário. Dias chuvosos e úmidos pedem uma rede e como estou de férias há quase 30 dias "sem dar um prego numa barra de sabão", com preguiça até de produzir textos, deixo o meu comodismo aflorar e tento entender o porquê de tantos dias parados, modorrentos. Com tanta pasmaceira assim, Porto Velho está se parecendo um quartel das Forças Armadas onde ninguém faz absolutamente nada e à espera do tempo passar, sonha-se com o Brasil, o país do amanhã. Isto é, se amanhã não for feriado de novo.

 

 

*É Professor em Porto Velho.